Wednesday, March 06, 2024

MACRON TEM RAZÃO

"Macron tem razão" é título de artigo de Teresa de Sousa, muito provavelmente, a jornalista e analista melhor informada sobre a União Europeia, publicado no Público de domingo, 3, Macron tem razão.
Não foi a primeira vez que Teresa de Sousa se posicionou contra a corrente anti Macron que se tornou "politicamente correcto" em Portugal, e não só. Também em França Macron não vai pelos caminhos fáceis da demagogia mas tem suportado os embates. 
Já em 10 de março de 2019, há cinco anos, TS titulava outro artigo no mesmo sentido - Macron fez o que devia. Os seus pares deviam fazer o mesmo.

Agora, a evolução da ameaça que paira sobre a União Europeia ganhou tamanho para que Macron não esteja isolado nas suas posições: Von der Leyen apresenta estratégia de defesa: para já tem orçamento de (apenas) €1,5 mil milhões - 5/03/24 - EXPRESSO.  
Van der Leyen, licenciada em Economia e doutorada em Medicina, foi ministra da Defesa no governo de Merkel. O actual chanceler alemão Olaf Scholz, do Partido Social Democrata da Alemanha mostra-se desconfortável com a política de defesa pretendida por Van der Leyen.
E sem a adesão da Alemanha, a segurança europeia espera até chegar o momento de desespero, quando já for tarde demais.
Em 4 de Fevereiro, há cerca de um mês, Teresa de Sousa escrevia:  União Europeia de Defesa: o regresso de uma velha ideia.
 
Escrever agora sobre um tema que não interessa aos portugueses, num momento em que se engalfinham os partidos para chegar ao poder em Portugal, só lembra ao diabo? 
Não. Também ocorreu a Sérgio Aníbal que hoje recorda no Público aos sonâmbulos em modo de ruído: Um mundo cheio de riscos ameaça programas traçados pelos partidos .
A propósito, ontem foi a super terça-feira nos Estados Unidos da América, a Super Tuesday, do nosso descontentamento: Trump garantiu a sua nomeação pelos Republicanos às presidenciais deste ano, a 8 de novembro.
Espero que a ninguém que leia o que estou agora escrever ocorra a bizarra ideia de perguntar-se: "E o que é que eu tenho a ver com isso?.
Devo esclarecer que não estou a imaginar a pergunta, porque já a ouvi a gente que se julga geralmente bem informada.

Não sei qual o interesse que merecem aos portugueses as eleições primárias que se realizaram ontem  em 15 Estados dos Estados Unidos da América. É conhecida como a Super terça-feira por nela se decidirem aqueles que, muito provavelmente, se confrontarão em 8 de novembro para as eleições presidenciais: muito provavelmente, Biden, do lado Democrata e Trump do lado Republicano.
Apesar de ser muito provável o confronto Biden - Trump, até 8 de novembro muitos acidentes poderão, entretanto, ocorrer incidentes que desviem o caminho que, agora se toma como conhecido. Seria chato e inútil comentar alguns desses possíveis acidentes de percurso, que outros com conhecimentos da matéria, que eu não tenho, continuam a escalpelizar, fora de portas e, sobretudo, creio eu, portas adentro.

Não é só o desinteresse dos portugueses relativamente às eleições norte-americanas em novembro deste ano, que se compreende, sobretudo neste momento de vésperas de eleições legislativas em Portugal, mas a generalizada falta de percepção, em Portugal e na União Europeia, dos impactos que os resultados das presidenciais (e não só) dos EUA este ano terão  na União Europeia no contexto mundial. Muito sobretudo, porque Trump tem, a partir de ontem, a nomeação pelos Republicanos garantida. 
Trump tem agora estendida a passadeira para a nomeação pelos Republicanos, indefectíveis apoiantes de um indivíduo sobejamente conhecido pelos atentados à democracia liberal que os norte-americanos sempre defenderam.
Os indefectíveis de Trump são contra o direito da mulher ao seu corpo, condenando a prática do aborto. Curiosamente, ou talvez não tanto quanto parece, os franceses aprovaram esta semana, por esmagadora maioria, na Assembleia Nacional Francesa a inscrição na Constituição da República o direito constitucional da mulher a abortar. É o primeiro país no mundo a fazê-lo. 
Mas há mais, há muito mais, mas vamos referir só mais um: os indefectíveis de Trump prosseguem crenças que só podem fazer estremecer quem tem conhecimentos, mínimos que sejam, da evolução do conhecimento científico: tomam a Bíblia (os islâmicos da mesma laia tomam o Corão) para imporem, tanto quanto a sociedade em que se inserem lhes permite, ou até apoiam, a proibição do ensino da teoria da evolução das espécies. Para estes indefectíveis de Trump a teoria da evolução das espécies é treta, a espécie humana foi colocada na Terra por disposição divina, toda a a gente deste mundo descende de Adão e Eva, é o que eles leem na Bíblia (não sei se leem ou alguém leu por eles), são os criacionistas.   
O actual líder dos Republicanos na Câmara dos Representes, ilustre desconhecido, membro da Câmara, eleito por exclusão estratégica mútua dos mais conhecidos, tem a Bíblia como lei supra constitucional, interpretada literalmente, como qualquer islâmico que ficou preso ao Corão do século sétimo. 
Há muito mais crentes no criacionismo do que muita gente, mesmo entre a mais finamente educada, que desconhece a amplitude do criacionismo em todo o mundo.
O criacionismo, aliás, tem também os seus argumentos de marketing: se, ou quando, a espécie humana, por alguma razão, e há algumas fortes demais,  desaparecer, a divindade coloca cá outro Adão e outra Eva, eventualmente com alguns defeitos, que os milénios evidenciaram, corrigidos, e melhorados com alguns gadgets, com inteligência artificial, por exemplo.

Voltando a Trump e as muito sérias ameaças para a Europa que a sua presidência a partir do início do próximo anos pode determinar, 
Viktor Orbán vai ser recebido, a seu pedido, por Trump, no seu luxuoso resort na Flórida depois de amanhã: 
 
O que vai pedir Orbán a Trump?
Trump já anunciou publicamente que deu a Putin garantias de que os EUA não ocorrerão a defender a União Europeia contra uma invasão de Putin. Putin tem luz verde fixa, pode avançar à vontade. 
Quererá Orbán lembrar a Trump que Hungria é parte da União Europeia e, consequentemente, pode ser apanhada pelo raide global de Putin?
Ou simplesmente que Trump dê tempo a Orbán para esmifrar mais uns milhões à UE antes de se passar de armas e bagagens definitivamente e sem mais conversas para o lado de Putin?
Se nada disto, então que vai fazer Orbán a Mar-a-Lago? Só jogar golfe? 
 
O mundo está mesmo muito complicado.
Mas há, felizmente para nós, uma excepção. Em Portugal só está muito pouco complicado.

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