Thursday, April 23, 2020

GRAÇAS A ZEUS?


Obrigado pelo seu comentário.

Num ponto estamos de acordo: "vamos ser um dos países do mundo com mais dificuldade para retomar a nossa vida anterior. Aqui também manda quem é mais rico e pode suportar melhor casos destes."

Mas não me parece que a relação entre número de infectados e PIB/capita seja a relação mais determinante para enfrentar as consequências da pandemia sobre a economia quando ocorrerem condições para a retoma da utilização da capacidade instalada. O que é mais preocupante para os países é o endividamento que têm de enfrentar e a capacidade para o pagar. Também é muito relevante a estrutura da actividade económica: o peso do turismo na economia portuguesa é um significativo handicap para a recuperação.
A dívida portuguesa já era enorme antes da pandemia, a que níveis irá subir, ninguém sabe, mas serão certamente elevadíssimos. 

Este o nó górdio que ou as instituições europeias, neste momento em negociações complicadíssimas conseguem desatar, avançando para uma cooperação só possível naquilo a que há muito tempo chamei neste caderno de apontamentos uma federação mínima, ou a União Europeia desintegra-se.

Portugal, mas não apenas Portugal, também a Itália, a Espanha, até a França, entre outros (e a Grécia?, é muito estranho que ninguém fale da Grécia, tem um número relativamente reduzido de infectados, para já, mas a dívida grega não deixou de ser enorme, ou deixou?) *

Resumindo: Sendo a pandemia uma ameaça global, as suas consequências na esfera económica serão também globais. Piores para uns, os mais pobres, que para outros, os mais ricos, certamente. Mas, relativamente, muito piores para os mais endividados no fim da pandemia, se não houver cooperação entre países. 

Há muita gente a dizer o mesmo, mas nem todos o que dizem o mesmo estão a pensar o mesmo.

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* No dia 11 deste mês, podia lar-se num artigo do Público, vid. aqui,
que
       "... Por trás do sucesso está a entrada do país em regime de quarentena muito antes de a epidemia ganhar dimensão. Ao contrário de Itália ou de Espanha, as autoridades gregas esperaram menos de duas semanas desde o primeiro caso de confirmado encerrar as escolas e cancelar grandes eventos - nos dois países mais afectados, por outro lado, passou mais de um mês até que essas decisões fossem tomadas"...

"O analista da Fundação Helénica para a Política Externa e Europeia, George Pagoulatos, disse à Al-Jazeera que “talvez tenha ajudado o facto de a Grécia estar num estado quase constante de gestão de crise desde 2010”.

“Não sofremos do tipo de complacência que as  economias que estão em bom estado podem dar-se ao luxo de ter” .... "O Governo conservador liderado por Kyriakos Mitsotakis não esconde que uma boa gestão da pandemia se tornou numa forma de o país recuperar credibilidade junto dos parceiros europeus. “A Grécia emergiu de uma crise económica de dez anos com a sua credibilidade atingida e queríamos ultrapassar o rótulo de ovelha negra da Europa”, disse à Al-Jazeera o conselheiro económico de Mitsotakis, Alex Patelis"...

A propósito das consequências económicas e financeiras destas políticas de contenção da pandemia, que, segundo os últimos dados, continuam a ser bem sucedidas, não vi, desde então, nenhuma informação, nenhuma referência nos noticiários na rádio ou na televisão. 
No news, good news?




 

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