Friday, June 29, 2018

EXPLICAÇÃO EXTRA-TERRESTRE DA SALVAÇÃO DA TERRA



Há dias, Lucrécio bateu-me à porta, trazia duas novidades e uma questão para reflexão. Sabias que o Mário G., tu conheces o Mário, não conheces?
Nunca falei com ele, mas sim, sei a quem te referes …
Pois o Mário está com uma doença terrível …
Lucrécio não me vens falar de doenças pois não?
Não, não é bem isso. O caso é que, dizendo-se não crente, ateu, o Mário está a fazer peregrinações … Diz ele que assim se sente sossegado, menos perturbado. Que me dizes a isto?
Não digo nada. Não sei dizer nada para além de que não é de todo uma situação original. A literatura, ficcionada ou não, tem abordado o tema vezes sem conta. Em “Jean Barois”, o conflito central da obra opõe a Razão à Fé. Barois, nascido e criado num meio católico ultra conservador, torna-se crítico acérrimo das crenças religiosas, mas um dia, tendo sido vítima de um acidente de trânsito numa rua de Paris, conta, envergonhado, a um amigo, que, no momento em que vira que estava perdido, tinha invocado a Santa Virgem! Tchekhov, num dos seus contos, descreve o caso de um indivíduo que, com a intenção de ajudar um amigo, a primeira coisa que fez foi levar esse amigo à Nossa Senhora de … não me recordo o nome. Rezava com ardor, fazia profundas reverências e tinha lágrimas nos olhos. Quando acabou, suspirou profundamente e disse: - Se bem que descrente, sinto-me mais sossegado depois de rezar”. Será um tema que só desaparecerá com o desaparecimento da espécie humana. Entre o crente e o descrente ou o ateu, o debate centra-se na oposição, inultrapassável, entre admissão ou não admissão de uma ideia que nenhuma das partes alguma vez poderá cientificamente fundamentar ou rejeitar. Já me parece mais admissível, menos controverso, acreditar que nem a espécie humana é a única com capacidades inteligentes no universo nem este planeta é o único onde são possíveis condições de vida inteligente. E se há incontáveis mundos no universo onde isso possa acontecer, teremos de admitir que existirão nesses mundos seres superiormente inteligentes à espécie humana que poderão chegar até cá, de onde nós terráqueos não temos possibilidade de chegar até eles. Como, não sei, parece que ninguém sabe, há várias teorias mas nenhuma que dê hipóteses de o terráqueo sair do planeta e lançar-se no espaço sideral, poisar noutros planetas acolhedores e voltar ao ponto de partida, como prova de vida, sem ter esgotado o prazo de validade. Mesmo que, no futuro a espécie humana, ou uma parte dela, ainda que pequena, consiga viver mil anos, estaremos perante um tempo longo em termos de vida humana mas infinitamente pequeno perante os milhões de anos-luz com que se medem as distâncias no universo. Perante esta inultrapassável impotência humana, que espanto pode causar o desequilíbrio em terrenos movediços? O homem é um ser inteligente, racional, a sua descoberta da natureza é cada vez mais profunda, estimulante, mas também reveladora da sua ignorância e da sua reduzidíssima dimensão no universo. Houve um tempo em que a espécie humana situou o planeta em que nasceu no centro universo. Depois arvorou o sol até concluir que o sistema solar é apenas um entre muitos milhões de outros a rodopiar no universo. Perante esta dimensão esmagadora o que é crer ou não crer? E, sobretudo, crer ou não crer em quê?
Que te parece?
Parece-me que é uma proposta estimulante.
Que outra novidade me trazes?
Já nasceu o primeiro homem, ou mulher, é mais provável que seja uma mulher, que viverá até aos 150 anos, e, dentro de 20 anos, nascerá o ser humano que viverá 1000 anos. Acreditas?
Acredito, por que não hei-de acreditar? Não sei como provar o contrário. Como posso eu, profundamente ignorante, contestar as previsões de um super cientista. Se bem me recordo, esta notícia já circula há uns anos na internet… Não sei se o cientista visionário procedeu, entretanto, a algum ajustamento, facto que, só por si, não lhe retiraria idoneidade, mas para a confirmar há ainda que esperar muito. Talvez possas tu, Lucrécio, assistir à confirmação. Estás com 70, só tens que esperar 80. Que vais fazer Lucrécio durante tanto tempo?
Estás a fazer uma interpretação forçada, jocosa, penso eu, da notícia. O cientista que avançou com estas previsões fundamenta-as nos avanços já existentes e previsíveis a, relativamente curto prazo, no combate às causas das doenças que matam. No futuro, os seres humanos só morrerão por acidente.
Ou se continuarem a matar-se uns aos outros… Acidentes destes não irão faltar. Matai-vos uns aos outros é um mandamento, que não sei de onde veio, cada vez mais obedecido. Em todo o caso não deixa de ser motivador de uma discussão diletante pensar na forma como se organizarão as sociedades onde os seres humanos viverão 150 anos ou mais se não morrerem antes por acidente. Ou de tédio. Os dinossauros, segundo uma das teorias para justificar a sua extinção, terão morrido de tédio e não me consta que os laboratórios estejam preocupados em arranjar vacina ou remédio para tal doença. Cansados de pastar e criar lombo morriam de tédio se não morriam de doença, fome, acidentes ou condições climáticas adversas, curiosamente, os mesmos exterminadores que, ainda hoje, ameaçam a espécie humana. E não viviam muito, os dinossauros, no máximo cerca de 30 anos, li algures.
Pensa nisso.

Não sei se Lucrécio voltou a pensar no assunto. Eu não, mas esta noite sonhei com extraterrestres.

Havia um grupo reunido em círculo e no meio do círculo aquele que me pareceu ser o guia do grupo, digo que parecia porque manda a verdade dizer-se que não retive, nem do guia nem dos membros do conjunto, traços que me permitam descrever, ainda que toscamente, as suas silhuetas, nem entender os meios como comunicavam entre si. Deduzi que aquele era o guia do grupo não só pela posição que ocupava mas também porque dava ares de guia turístico, o que me permite afirmar com elevada probabilidade de acertar que havia um grupo e no centro do grupo um guia. Se não retive nem traços nem sons que me permitam agora sequer imaginá-los, posso, no entanto, garantir que não eram antropomórficos nem se entendiam através de sons audíveis, mas era, surpreendentemente para mim, a forma como conseguia aperceber-me do que dizia o guia ao grupo.
Surpreendente, quando agora relembro a cena, que naquele momento devo ter considerado normal. Ou talvez aquele surpreendentemente seja exagero meu porque sempre a espécie humana foi capaz de se fazer entender e desentender não falando nenhuma outra língua, para além da nativa, em toda a parte onde lhe deu na gana relacionar-se a bem a ou a mal com outros exemplares da mesma espécie com que se encontrou ou confrontou fora do sítio onde nasceu.
Dizia o guia ao grupo,
Neste planeta, foi dominante a espécie humana durante milhões de anos, que se considerava criação divina, como obra acabada - contavam o tempo pelas voltas completas deste planeta ao sol, cada volta, um ano, e pelas rotações do planeta à volta de um eixo imaginário, cada rotação um dia. 
Muito mais tarde, mas mesmo muito mais tarde, concluíram alguns, mas não acreditaram todos, que a tal espécie humana era afinal o resultado de uma evolução que lhe atribuía o chimpanzé como espécie antepassada mais próxima. 
O domínio da espécie humana, não só sobre as outras espécies mas também de umas partes da espécie sobre as restantes, decorreu da habilidade com que, no processo evolutivo, ou no divino instante criador, para quem defendia a tese criacionista, tal espécie foi dotada para matar à distância.
Inicialmente, à pedrada, lançamento de pedra na direcção do objectivo a atingir, geralmente com a mão direita, mas também, se fosse esse o jeito do atirador, com a esquerda, mais tarde com ambas as mãos, quando inventou a funda, mas a pedra como arma, não obstante o desenvolvimento de outras técnicas progressivamente mais eficazes, quer dizer, mais mortíferas, subsistiu ao longo dos milénios, por ser a mais simples, a mais abundante, ainda que a menos eficiente. Em confronto corpo a corpo, sem esta capacidade exclusiva e inata de matar à distância, a espécie humana perderia contra todos os outros seres vivos mais possantes, mais velozes ou dotados de capacidades que a humanidade, presa pelos pés à terra, só muito sofrivelmente viria muito mais tarde a conseguir imitar no ar e no mar. Depois da pedrada, sem olhar à qualidade da mesma mas à proximidade da que estava mais à mão, percebeu a espécie dominante que dominaria melhor, a mais distância e com mais precisão, se acoplasse na ponta duma vara uma pedra afiada e dura e a disparasse o retesando um arco de madeira flexível.
Tinha descoberto a forma com que, com novos desenvolvimentos técnicos, passando da pedra ao ferro, e do arco retesado à pólvora, atingiria o ponto em que o poder destruidor acumulado poderia matar tudo e todos, erradicando de vez todas as outras espécies do planeta, incluindo a própria espécie humana.
Todos?
Talvez não todos. Expedições anteriores não descortinaram sobreviventes complexos mas apenas vestígios celulares em fases infinitas de infinitos processos evolutivos. Daqui a muitos milhões de anos, este planeta, agora novamente predominantemente azul e verde, pintalgado com incontáveis formas, coloridas com todas as cores do espectro visível, voltará a ser habitáculo de espécies estruturalmente complexas.
Voltará o homem?
Para quem acredite que o homem é uma criação divina, é muito provável que reapareça por aqui a espécie humana em forma acabada mas em edição melhorada, já que aquela que se auto destruiu tinha sido, sob diversos aspectos, manifestamente mal concebida. 
Para os evolucionistas, a hipótese de reaparecimento do ser humano tem de ser considerada praticamente impossível já que tendo tido o homem um aparecimento muito tardio no planeta, a evolução pode prosseguir por caminhos que conduzam a seres capazes de continuar incessantemente a evoluir no conhecimento e na utilização dos recursos do meio em que vivem fisicamente muito distintos da espécie desaparecida. A hipótese de reaparecer a espécie humana na terra, salva a hipótese da criação divina, é tão improvável quanto o reaparecimento dos dinossauros, muito evoluídos em peso e volume mas limitados em capacidade de raciocínio, dominantes no planeta durante cerca de 135 milhões de anos, desaparecidos, e nunca mais reaparecidos, há mais de 65 milhões de anos antes da espécie humana ter sido divinamente concebida ou evoluído consoante as circunstâncias que defrontou. De qualquer modo, se alguma ou algumas das espécies que vierem a reocupar este planeta for portadora da habilidade de matar à distância, mais tarde ou mais cedo, repetir-se-á a cena da sua aniquilação total, de nada valendo aos super-golias a enormidade das suas toneladas perante as arremetidas de pedras com fundas, certeiras à distância, dos davides, pesos pluma. 
Como desapareceram os gigantescos dinossauros que durante tantos milhões de anos foram a espécie dominante no planeta, ninguém sabe. Talvez uma espécie de sniper escondido algures no universo, à distância de milhões de anos-luz, tenha lançado um meteorito nesta direcção, talvez com uma funda, provocando uma explosão e a formação de uma nuvem de poeira tão espessa que bloqueou o calor do sol, encurralando e exterminando biliões de seres vivos na câmara frigorífica em que o planeta foi transformado pelo embate do meteorito. É uma explicação, há outras, muitas incertezas mas também a certeza de que não foi a espécie humana que matou os dinossauros. Quando a espécie humana apareceu no planeta, qualquer que tenha sido a causa que tenha suscitado o seu aparecimento, já os dinossauros tinham desaparecido há largos milhões de anos.
Poderá ter sido outra ou outras espécies? Podem, de ínfimo tamanho, espécies que não atiram à distância porque se instalam por dentro do objectivo a matar. Quando não se matavam os indivíduos da espécie humana uns aos outros entravam em acção estes inimigos internos para, mais tarde ou mais cedo, demonstrarem que a ninguém, de qualquer espécie, seria permitido continuar vivo ad eternam, independentemente do tamanho ou da habilidade para atirar de longe.
Em todo o caso, a longevidade da espécie humana cresceu sobretudo quando descobriu meios para aniquilar alguns dos inimigos hospedados nos seus corpos, e expandiu-se à medida que se reduzia o número das outras espécies mais corpulentas. 
Expandiu-se de tal modo que alguém, entre eles, recomendou que acelerassem os cálculos e as tecnologias para ocuparem o planeta mais próximo, uma sugestão nada assisada, já que nós que, de caminho para aqui, passámos por lá e bem vimos que aquilo não é sítio onde se possa estar. E mais longe não conseguia ir a espécie humana, barrada pelas distâncias não ultrapassáveis porque ignorava a possibilidade de comprimir a restrição da velocidade da luz no espaço-tempo que os bloqueava.
A espécie dominante tornou-se, portanto, a espécie mais predadora das restantes espécies até se tornar a mais predadora da sua própria espécie, varrendo-a da superfície do planeta. Porquê? Porque, segundo uns, os gases provocados pelas actividades humanas tinham produzido um aquecimento global que derretera os gelos acumulados nos pólos do planeta, aumentara os níveis de água dos mares, afundando as cidades situadas nas margens dos oceanos quando os muitos milhões de humanos haviam escolhido viver ali. E, mais grave ainda, fizera subir as temperaturas a níveis insuportáveis em grande parte do planeta. Se os dinossauros tinham desaparecido congelados na câmara frigorífica os homens tinham-se condenado a desaparecer esturricados num forno à escala planetária.
Segundo outros, esta ameaça era uma balela que servia interesses inconfessáveis, os cientistas desentendiam-se e os filósofos concluíam que onde os cientistas não encontram alguma estabilidade de conhecimento não há certezas científicas e poderão haver interesses materiais em jogo. 
O planeta já passara por fases de aquecimento e arrefecimento fora dos intervalos de normalidade e a humanidade não desaparecera, esquecendo-se, propositadamente ou não, a favor ou contra qualquer das teses, que a humanidade se contava nesses tempos passados em número incomparavelmente ínfimo daquele que viria a atingir depois. Nesta discussão, o comportamento da espécie dominante ou seria fautor primordial da destruição das condições de vida no planeta e, deste modo, exterminador de pelo menos grande parte da espécie humana, ou, completamente inocente de fenómenos aleatórios, até prova em contrário.
Uma discussão que viria a ser submersa pela ocorrência da utilização extrema da habilidade que tornara dominante a espécie humana, a sua capacidade de matar à distância.
Durante milénios após o ser humano ter sido colocado ou aparecido no planeta, (continuamos a admitir as duas hipóteses porque, para este efeito, é irrelevante qualquer opção), a evolução do seu conhecimento da matéria que pisava e era feito tinha-lhe permitido transitar da técnica do arremesso a curtas distâncias da pedra em bruto para o arremesso a longínquas distâncias de matéria cindível em explosões que progressivamente se aproximavam em capacidade exterminadora daquela que o meteorito vindo dos confins do universo terá provocado ao embater no planeta há 65 milhões de anos, eliminando dinossauros e biliões de outras criaturas da face do planeta.
Pouco tempo, pouquíssimo, se usarmos a escala cósmica, depois do lançamento do primeiro engenho a média distância, menos de dez mil metros, a que voava o avião que o transportava sobre a cidade que destruiu instantaneamente, enquanto subsistia a discussão da culpa ou da inocência humana no aquecimento global, os humanos continuavam a matar-se uns aos outros, desenvolvendo capacidades de destruição incontroláveis.
Primeiro um grupo, o mais dominador, depois um segundo, depois um terceiro, enfim, chegou o momento em que quase todos os grupos dispunham de armas de destruição maciça, que no seu conjunto, eram, segundo avisos de alguns, susceptíveis de eliminar tudo e todos da face do planeta, se, por intenções suicidas, individuais ou colectivas, o rastilho do enorme fogo-de-artifício fosse ateado algures no planeta. E foi. 
Antes disso tinha havido ameaças, bloqueios, cada grupo considerando-se mais forte que os outros, ao mesmo tempo que cada um aumentava o seu arsenal destruidor. Havia alturas em que concordavam em suspender o crescimento dos arsenais, outras em que chegavam a acordar na sua redução, mas as reduções eram lentas e quando eram suspensas logo se reactivavam os crescimentos dos arsenais. 
Incompreensivelmente, para nós, que agora começamos a conhecer alguns estranhos hábitos destes seres que dominaram o planeta, crentes e não crentes na existência de um ser omnipotente criador do planeta e dos céus que o envolviam, voltavam os seus olhares para os céus rogando o favorecimento desse ou desses seres superiores, divindade ou divindades, nos confrontos, bélicos ou não, quando defrontavam os seus inimigos ou adversários, aparentemente inconscientes da iniquidade da protecção que rogavam à divindade com as suas preces. Mas só pelo facto de rogarem o mesmo favor, a vitória dos seus lados, a derrota ou aniquilação da parte contrária, sentiam-se confiantes e animados para uma luta mais feroz e esmagadora. Depois os vencedores construíam templos em honra e agradecimento das vitórias alcançadas geralmente às mesmas divindades que os derrotados também veneravam e a quem tinham rogado os mesmos favorecimentos divinos. 
Outro aspecto não menos anedótico, que vale a pena referir, do comportamento dos humanos com mais poderes pessoais e maior longevidade, era o uso que davam aos seus recursos. Depois de terem posto o pé em cada palmo do solo do planeta, depois de terem navegado por todo os mares, deliciavam-se em passeios orbitais em naves tripuladas a olhar o planeta a rodar-lhe à frente do nariz. Os passeios vulgarizaram-se, a tal ponto que ficaram conhecidos pelas órbitas dos tristes ricos, alguns aventuraram-se em órbitas cada vez mais distantes, e por lá andarão ainda porque não conseguiram voltar. 
Para prevenirem as consequências letais de um genocídio global, alguns, mais abonados construíam abrigos desvalorizando o tempo em que perduravam os efeitos da destruição global. E todos os grupos mantinham os seus arsenais em locais invisíveis para os inimigos, que eram todos os outros.
Um dia (há sempre um dia em qualquer em que a história acaba) aconteceu o inesperado em um desses arsenais, por sinal um dos maiores, conquanto mal controlado, como mais tarde, tarde de mais, se veio a saber, um vírus, vindo não se sabe de onde, espoletou o sistema, sem senha nem contra senha, e desencadeou ataques cruzados em todos os sentidos do planeta.
Alguns daqueles que orbitavam no momento da explosão global procuraram voltar aterrando num local isolado no meio do maior oceano. E centenas deles estatelaram-se numa pequena ilha onde, paradoxalmente, não havia água suficiente sequer para os residentes. Os que sobreviveram morreram de sede. Sabemos isto porque, após a explosão global, o aquecimento subsequente aumentou o nível das águas dos oceanos e submergiu a ilha mantendo suficientemente preservados muitos dos destroços.  
Inacreditável, não é? perguntou o guia ao grupo para remate da exposição que já tinha semiadormecido parte dos elementos do grupo.
Pois é. Mas foi mesmo assim. E agora aqui temos a casa que há tanto andávamos à procura para ocupar.
Sem armas, sem guerras, com tudo o que precisamos ao nosso alcance.
Cuidado a reter: há por aí, em local ainda não sinalizado, uma árvore, a árvore do conhecimento. É enorme, e está em constante crescimento. Comer o fruto dessa árvore permite aumentar a capacidade de quem se alimenta dele para dominar os outros, até à aniquilação global de todos. Curioso é que, a espécie humana tinha sido avisada, ou muito cedo se apercebera,  do perigo de auto extinção por utilização extrema do conhecimento. E não se pode cortá-la?
Poder, pode, e durante milénios a espécie humana, de um modo ou de outro, travou ou eliminou parcialmente o avanço do conhecimento. Mas a ninguém ocorreu a fórmula mágica de travar a utilização do conhecimento no auto destruição da espécie. Acabou a espécie humana, salvou-se o planeta. 
Ganhámos nós mais um espaço confortável para descomprimir o excesso de povoamento dos mundos onde já chegámos. 
Vantagem do domínio da compressão do espaço-tempo. Estranho é que ninguém, mesmo entre os cérebros humanos mais avançados, se tenha lembrado disso. Ou talvez não seja assim tão estranho. A maior parte do esforço humano era dedicado à discussão entre grupos e à guerra entre eles. Estavam condenados a desentender-se, ou por imposição divina no momento criador ou por natural consequência da selecção natural que os fez evoluir.  

4 comments:

Pedro Fonseca said...

Excelente!
Penso: deve ter algo para aprender no voo das borboletas, nas arvores a cresceram, nas coisas em paz com o planeta.

Rui Fonseca said...

Obrigado, Pedro, pelo teu comentário.
Certamente que o homem tem muito a aprender com a forma como vivem e convivem os outro seres vivos.
Lamentavelmente, parece-me, que nunca quis nem quer aprender. Refiro-me, evidentemente, à maioria da espécie humana.
Há muitos que fazem a reflexão que nós fazemos mas são submergidos pela pulhice da maioria. Mas talvez mudem.
Temos, sobretudo os mais jovens, que acreditar num mundo progressivamente melhor ainda que a ondulação das circunstâncias pareçam de vez em quando ameaçar o pior.

Francisco Carvalho said...

...um texto muito estimulante e, para mim pleno de 'fantasia realista'...parabéns, Rui

Rui Fonseca said...

Obrigado, Francisco.
Abraço