Saturday, January 28, 2017

A VIDA, PELO PARAÍSO

Hà dias, anotei aqui uma leitura possível do "Silence" de Scorsese. Hà outras, mas a minha atenção foi sobretudo mobilizada para as razões, muito explícitas no filme, que explicam o relativo sucesso dos missionários jesuítas, em meados do século XVII, na conversão ao cristianismo de japoneses vivendo em condições miseráveis em povoações costeiras e as crueldades da perseguição que  lhes foi movida pelas autoridades locais: os missionários garantiam um além vida pleno de felicidade que as espiritualidades tradicionais (xintoísmo, budismo) não teístas não ofereciam.

Outra perspectiva aponta para as crueldades cometidas  em nome de Deus pela humanidade contra si mesmo. Mais ou menos nos anos em que decorrem as atrocidades contadas no filme a Inquisição perseguia os judeus em Portugal e Espanha* de forma mais extensiva e sem razões de concorrência imperfeita que ameaçava os monges espirituais no oriente. Em nome de Deus foram, são e continuarão a ser, porque nenhuma mudança desta índole humana se perspectiva para o futuro, cometidos os mais bárbaros e irracionais comportamentos. 

Pelo contrário, assiste-se agora a um recrudescimento do fanatismo religioso, não menos violento em crueldade e vítimas do que aquele que varreu de ódio os séculos passados. 
Ontem contaram-se 72 anos sobre a data da libertação de Auschwitz. Por estes dias voltarão os media a dar conta de atentados islâmicos, geralmente cometidos por terroristas suicidas convencidos que no além vida os espera uma vida de felicidade infinita. 
Entretanto progridem os aplausos aqueles que propõem o regresso às barricadas nacionalistas para o combate racista, xenófobo, chauvinista, esquecendo que o planeta é fisicamente limitado mas, para o eventual uso letal dos progressos da ciência, cada vez mais pequeno. 


Na edição de ontem do Público, Bagão Félix, a propósito de "Silêncio" pergunta aqui

"No meio de tantas provações e devastação de vidas, o que levou homens e mulheres a crerem? Como se alcançou uma tão inalienável fé por Deus, com Deus e em Deus? Como viram no seu Cristo o farol da conversão, o esplendor da compaixão, o ícone quase uterino da absolvição e da purificação? Como se explica o martírio como a mais gloriosa morte a que aspiravam?"

Pergunte aos bombistas suicidas do Daesh, por exemplo.

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O Judeu, de Camilo Castelo Branco, para quem esteja interessado na leitura de um romance centrado na vida de António José da Silva, escritor, dramaturgo, condenado à morte na fogueira com 34 anos em 1739. 


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