Sunday, July 03, 2016

AQUI HÁ GATO

Das três funções primordiais do Estado - educação, saúde e justiça - é na saúde que Portugal mais tem conseguido progredir nas últimas décadas. 
Segundo os relatórios do Desenvolvimento Humano da ONU - vd. aqui - Portugal caiu 15 lugares, de 28º. para 43º, no ranking entre 2000 e 2014, fundamentalmente devido aos maus resultados obtidos na educação. 
Quanto à justiça, a avaliação do seu desempenho caiu há muito tempo na praça pública e as consequências do fracasso são notórias na frequência com que se repetem as notícias desabonadoras. Pelo contrário, são muito positivos os resultados divulgados na área da saúde.

São no entanto incompreensíveis algumas notícias vindas a público.  

Ouço na rádio, há dias, e confirmei aqui, que,

"segundo um inquérito realizado pela secção centro da Ordem dos Médicos em 2015, os clínicos sentem-se pouco realizados e cansados, 25% apresenta sinais de depressão e 16% trabalha 60 a 80 horas semanais" ... "são os clínicos mais jovens, entre os 26 e os 35 anos, que mais sentem os efeitos do burnout" . ... "a maioria dos médicos trabalha em regime exclusivo para o SNS e são estes que apresentam níveis maiores de exaustão emocional e menos realização profissional, 53,2% faz entre 40 a 60 horas  semanais e 15,9  e entre 60 e 80 horas. Mais de metade faz urgências e 44% trabalho nocturno"

Situações destas, pensa o cidadão comum, podem provocar erros médicos. Como é que se explica isto, quando, segundo outras notícias vindas a público recentemente, não estão agora garantidas vagas de acesso às especialidades a todos os candidatos? Como é que se explica a reposição das 35 horas semanais para a função pública ao mesmo tempo que para mesma entidade patronal trabalham profissionais obrigados a horários de trabalho de tal modo esgotantes que podem colocar vidas em perigo? 

Um relatório do FMI, que referi  aqui critica a reposição das 35 horas semanais, mas não há nenhuma alusão ao trabalho extraordinário de médicos que ultrapassa aquele valor e duplica a carga horária semanal considerada adequada para a generalidade da função pública.

Ontem, ouvi a notícia do anúncio de uma greve dos enfermeiros que reclamam, além de mais, a aplicação do horário de trabalho de 35 horas a toda a classe, incluindo aqueles que têm contrato individual de trabalho.

A Ordem dos Médicos, secção centro, faz inquéritos que concluem pela necessidade de mais profissionais mas o sistema (o sistema tem sempre as costas largas) não tem capacidade para os admitir em formação nas especialidades.
Por outro lado, aparentemente, a situação é tolerada, ou até bem recebida, pela generalidade da classe, que assim compõe uma retribuição condigna porque o vencimento base fica muito aquém.
Que pretende a Ordem?

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