Thursday, January 24, 2013

O DÉFICE NÃO É UM PROBLEMA


Martin Wolf, citado por Paul Krugman aqui, defendia ontem no Financial Times que  a política fiscal norte-americana não está em crise - America´s fiscal policy is not in crisis -, o desafio mais urgente é a promoção da recuperação da economia. Sem dúvida, reconhece MW, a evolução da dívida poderá vir a colocar sérios problemas a longo prazo, mas a única forma de os evitar não é a redução da despesa a curto prazo mas a criação de condições de crescimento económico que obrigue a inflexão da curva do endividamento antes que este assuma proporções indomáveis. Em resumo: Martin Wolf alinha pela política da administração de Obama, ainda que pondere nela alguns trajectos que deverão ser equacionados, por exemplo, o crescimento dos custos de um sistema, ineficiente, de saúde. Do ponto de vista da oposição republicana no Congresso, que já engoliu metade do sapo do aumento do tecto da dívida, Martin Wolf será um socialista infiltrado no diário de maior expansão mundial, um símbolo inequívoco do capitalismo.

Uma das consequências imediatamente visíveis desta política é persistente desvalorização do dólar relativamente à moeda única europeia que, obviamente, favorece as exportações norte-americanas e dificulta as economias europeias, sobretudo aquelas que, por se encontrarem num patamar tecnológico médio menos competitivo, enfrentam desarmadas a guerra das moedas. A desvalorização da moeda não é uma  uma boa via para ganhar competitividade de forma sustentada, mas a valorização é certamente um handicap que algumas economias, e nomeadamente a portuguesa, com um tecido produtivo não geralmente sofisticado,  dificilmente poderão compensar com outros argumentos.

Assim sendo, é esperável que a União Europeia do norte reconheça a curto prazo que a política prioritária da austeridade tem de dar lugar a uma política mais flexível que, sem descurar a prosecução do aumento da eficiência do Estado, permita criar condições à revitalização das economias mais fragilizadas. A obsessiva polarização do discurso político no saneamento das finanças públicas, de que a reentrada nos mercados é um exemplo flagrante, tem desvalorizado o caminho económico que permitirá pagar a dívida. Alguns argumentam que não há crescimento económico sem saneamento das finanças públicas e que a economia não é o governo que a promove mas os empresários. O que sendo verdade, não é totalmente verdade. Se fosse, as exportações portugueses não representariam, apesar dos progressos observados, ainda uma parte menor do PIB do país.  

12 comments:

Anonymous said...

As exportações representam cerca de 40% do PIB.
Na generalidade dos pa´ses europeus representam menos.
Em Espanha, Itália, França, Reino Unido representam entre 27 e 32%.
Equivocou-se?

rui fonseca said...

Caro Anonymus,

Agradeço o seu comentário.
Contudo, segundo números do Banco Mundial citados pelo actual ministro da Economia aqui
http://desmitos.blogspot.pt/2011/05/exportacoes-em-percentagem-do-pib.html
Portugal esta aquem da m+edia da Zona euro.

E deveria estar além, por uma simples razão: temos um mercado interno pequeno e Portugal não pode sustentar o seu crescimento com uma participação das exportações no PIB ao nível a que se encontra.

Lamentavelmente a questão urgente da dívida colocou na smbra a questão mais importante.

Anonymous said...

Os nuneros que indica vão até 2010.
Se utilizasse os do Banco Mundial que vão até 20111 ou as estimativas de v2912 que apontam para 42% , o que está dentro da médias europeia teria razões para ver progresso e ser menos caustico.

rui fonseca said...

Como as exportações subiram (uma boa razão) e o PIB se reduziu (uma má razão) a relação subiu. Se atingiu os 42% em 2012 não consegui ainda confirmar. Mas não contraria o que afirmei: Portugal é um espaço económico pequeno que a crise contraiu ainda mais. É preciso exportar mais e é fundamental que a produção de transaccionáveis seja incentivada.

Concorda ou continua a considerar que estou a ser caustico?

Anonymous said...

Claro que concordo, mas não deixo de olhar de forma positiva para evolução das exportações em vez de minimizar os resultados conseguidos por muitas empresas.

rui fonseca said...

Não minimizo o sucesso de algumas, talvez de muitas empresas, mas reparo que os sectores não transaccionáveis continuam subalternizados.

Estranhamente, os investimentos que temos ouvido falar referem-se a mais não sei quantos (nove?) shopping center!

Se não são loucos é porque os incentivos continuam a soprar para o lado deles.

Na zona onde moro, e onde num raio de dois quilómetros há três shopping, vai abrir mais um supermercado. Investimento produtivo, se há não se nota.

Anonymous said...

A conversa já está a desviar-se mas deve saber que o português quando pensa em negocios pensa em abrir um restaurante, um café ou um minimercado.

rui fonseca said...

"A conversa já está a desviar-se..."

Não está, não. Do que falamos é da necessidade de investimento reprodutivo para um crescimento sustentado. Como é que isso se consegue? Incentivando-o e desencentivando o outro,o que vive protegido da concoerrência.

O português não é diferente dos outros: responde a incentivos.

Unknown said...

Para aqueles que viram como negativa esta ida aos mercados, só me ocorre uma questão: Por onde andava esta gente (aparentemente) tão adversa ao endividamento público, entre 2005 e 2010!?...

http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/01/dos-festejos-ao-ressabiamento-agridoce.html

Anonymous said...

" Não está não" Para mim está e não respondo a retóricas sofistas.

rui fonseca said...

Caro Murphy,
Aqui, não se considerou, de modo algum, negativa a ida aos mercados.
O que se disse foi que o senhor ministro das Finanças não fez um milagre.

Fez?

rui fonseca said...

"não respondo a retóricas sofistas"

Faz muito bem.

Mas volto a agradecer os seus comentários.