Tuesday, April 12, 2011

IN DUBIO, PRO QUIETO

Já são muitos e de quadrantes muito diversos aqueles que reclamam uma intervenção mais activa por parte de Cavaco Silva na gestão dos imbróglios da crise. Gente que, até muito recentemente, não admitia que o PR se imiscuisse minimamente nos assuntos da governação, acusa-o agora de não mexer uma palha para a solução dos problemas do país.

A confusão de sentimentos chegou ao ponto de o ministro das Finanças declarar em Budapeste que as conversações com os partidos da oposição, a propósito do pedido de ajuda externa, competia ao PR por se encontrar o Governo de gestão inibido de o fazer, mas as suas declarações foram, mais uma vez, ultrapassadas na primeira oportunidade pelo PM, neste caso  no congresso comício que fervorosamente o aclamou: O Governo não se demite das suas responsabilidades e confrontar-se-á com quem for preciso confrontar-se*.

Tal determinação, porém, não sossega alguns espíritos, que persistem em chamar o PR à assumpção das suas responsabilidades. Que responsabilidades? Parece que ninguém sabe e o próprio visado também não. Os constitucionalistas são gente demasiado inteligente para deixarem esgotar o filão e, naturalmente, entretêm-nos com pareceres opostos.  

Mário Soares, um dos preocupados com a passividade do seu actual sucessor, depois de  um apelo lancinante antes da dissolução da AR, concordou em Conselho de Estado com a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas, e agora persiste em pedir a Cavaco Silva uma intervenção mais activa**.

Convém recordar que a limitação dos poderes do PR foi reforçada quando Eanes era PR e Mário Soares se juntou a Sá Carneiro na redução das competências do PR.
Sem uma crise à volta do tamanho da actual, tanto Soares como Sampaio se sentaram confortavelmente em Belém e facilmente capitalizaram votos. Tão facilmente que Soares foi apoiado pelo PSD na sua candidatura ao segundo mandato; Sampaio teve a única intervenção visível que a Constituição concede ao PR: dissolver a AR.

Cavaco seguiu-lhes as pisadas mas, apesar de ter prometido uma intervenção mais activa, parece, aperentemente pelo menos, a não saber bem a que limites pode ousar chegar. Se se mexe caem-lhe os partidos em cima e o PM vitimiza-se; se fica quieto, pedem-lhe que intervenha mas não dizem como.

Na dúvida, Cavaco mantem-se, aparentemente, quieto. Dos bastidores, não chegam sinais públicos da intervenção activa, mesmo que ela exista.
Visivelmente, o PR continua a não ir além do notariado. O resto, se existe, não passa dos rumores.
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* Primeiro Ministro vai reunir-se com partidos quarta-feira de manhã
**Mário Soares: Portugal ajoelhou

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