Tuesday, July 28, 2009

SEMPRE OS MESMOS

Procuro na Web a notícia de cabeçalho do Jornal de Notícias "Férias no estrangeiro escapam à crise" e o resultado da pesquisa diz-me que " Cada vez mais portugueses passam férias no estrangeiro " e que "mais de um milhão de portugueses optou por fazer férias no estrangeiro em 2005, em detrimento dos destinos nacionais". O que confirma que i) o hábito vem de longe ii) a crise não altera os comportamentos dos portugueses iii) a falta de meios, sim.
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Surpreendente? Não parece.
E não parece porque, como é sobejamente sabido, há quem tenha visto os seus vencimentos aumentados (o funcionalismo público e alguns mais) numa altura em que o índice geral de preços está em queda. Tendo mais dinheiro disponível, alguns portugueses gastam-no, apesar da crise ou sobretudo porque há crise: gasta agora porque amanhã pode não haver. Os outros, os que não viram aumentos ou perderam o emprego, fazem o que sempre fizeram: ficam em casa. Português não é japonês, e a crise dos outros não assusta aqueles a quem a crise (ainda) não bateu à porta, e trata de laurear a pevide como se habituou a fazer desde há alguns anos.
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Segundo o Jornal de Notícias, "a Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo está surpreendida com a procura de viagens de férias registada no mês de Junho por parte dos portugueses, que ultrapassou as expectativas iniciais do sector, tanto no que se refere à procura de destinos no exterior como nacionais ... os portugueses estão a pagar por este tipo de ferias ... consoante o destino, 750 a 800 euros por pessoa para estadias de oito dias.
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E ainda há quem ande preocupado com a influência da redução da procura no agravamento da crise. A nossa crise está, claramente, do outro lado, do lado da oferta.

8 comments:

A Chata said...

Talvez haja mais uma explicação,

Europe braced for rising credit card defaults

By Jane Croft and Megan Murphy in London and Francesco Guerrera in New York
Published: July 26 2009 21:09 | Last updated: July 26 2009 21:09
Lenders in Europe bracing themselves for a rising wave of consumer debt defaults as the credit card crisis that has caused billions of dollars in losses among US banks spreads across the Atlantic.
The International Monetary Fund estimates that of US consumer debt totalling $1,914bn, about 14 per cent will turn sour.
...
http://www.ft.com/cms/s/0/02db48fa-7a11-11de-b86f-00144feabdc0.html?nclick_check=1

os cartõezinhos...

António said...

Bom dia.
E nos numeros desses que passam férias lá fora, estarão incluídos os que tiveram que ir para lá fazer pela vida e que aproveitam as férias dos outros para fazer mais uns chanatos e compor o orçamento?
Estatísticas portuguesas?
Não, não e não!
Mentiras portuguesas?
Todos os dias temos novas.

A Chata said...

As estaticas fazem sempre lembrar-me daquela piada:

1 comeu 3 frangos e outro não comeu nenhum.
Em média, comeram 1 frango e meio cada um...

Rui Fonseca said...

Seja bem vinda de novo Amiga A.!,

"os cartõezinhos..."

Concordo que a facilitação do crédito tem culpas no cartório do descontentamento dos portugueses.
Depois de lhe abrir as portas pede-lhe o pagamento das contas.

Mas, segundo li há dias numa crónica de Campos e Cunha no Público, não são os que têm menores rendimentos aqueles que acumularam mais dívidas relativamente aos seus rendimentos.

Ora não são os pequenos rendimentos que não são afectados a crise, nem os muito endividados.

Quem escapa então?

Os que viram os seus rendimentos aumentados.

Rui Fonseca said...

Caro António!

É um prazer ter novamente comentários seus.

"E nos numeros desses que passam férias lá fora, estarão incluídos os que tiveram que ir para lá fazer pela vida e que aproveitam as férias dos outros para fazer mais uns chanatos e compor o orçamento?"

Não creio. Os destinos citados mais procurados são Marrakech, Tunísia, Cuba...

Rui Fonseca said...

"1 comeu 3 frangos e outro não comeu nenhum.
Em média, comeram 1 frango e meio cada um..."

Cara Amiga A.,

No caso em questão, o que está em causa são números absolutos, não são médias.

É bem verdade que as médias são muitas vezes ilusórias.

A Chata said...

"Mas, segundo li há dias numa crónica de Campos e Cunha no Público, não são os que têm menores rendimentos aqueles que acumularam mais dívidas relativamente aos seus rendimentos."

Essa é boa!
Claro que não são os da pensões e subsidios de 200, 300 euros que têem cartõezinhos.
A classe média, a geração dos 500, aqueles que entre dividas da casa, do carro ainda conseguem sobreviver (com a ajuda dos pais) são esses que, por enquanto, continuam a usar os cartõezinhos.

Ainda esta semana, o meu banco me enviou um cartão Gold de crédito talvez, porque pouco uso o Silver que já me tinham enviado anteriormente.
Não sou funcionária pública, nem tenho rendimentos que justifiquem, nem de longe, nem de perto, um cartão Gold.

Já pensou as férias no estrangeiro que eu poderia fazer...



No caso das estatisticas, sabemos bem como se podem distorcer para dar o resultado mais aproximado do que pretendemos...

Rui Fonseca said...

"Ainda esta semana, o meu banco me enviou um cartão Gold..."

Concordo que a pressão dos bancos incentivando o consumo continua.
E que, em alguns casos, essa pressão continue a aumentar os casos de endividamento para além do razoável.

Mas tambem é verdade que nem todos estão a sofrer, por enquanto, os
efeitos da crise. E são esses, sobretudo, que continuam a viajar tanto ou mais que antes da crise.

Salvo melhor opinião.