Friday, February 09, 2007

O QUE DISSE O PINHO

Caro J.

Quando, há dias, o inimitável Pinho disse na China que o investimento estrangeiro (chinês, neste caso) poderia encontrar em Portugal mão-de-obra barata e mansa; quando o PM, chutando para canto, veio dizer que o que o Pinho queria dizer era que tínhamos mão-de-obra qualificada (e mansa, supõe-se) toda a gente lhes caiu em cima, em todo o caso mais em cima do Pinho.
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Claro que o discurso da tanga na China foi mais um dos descuidos linguísticos do Pinho, que deve ter esquecido onde estava.No subconsciente do Pinho, contudo, está gravada uma informação indelével: a de que Portugal tem ainda 3,5 milhões de trabalhadores que não completaram o ensino secundário e, desses, mais de um milhão tem mais de 50 anos de idade. Há, lamentavelmente, em Portugal uma parte importante importante da população activa que não tem idade nem capacidade para grandes reconversões tecnológicas.Esta é uma realidade que os sindicatos, e sobretudo a CGTP, se recusam a ver. Ou vêm mas fazem vista grossa.
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Todos sabemos que muitos lugares que exigem qualificações médias estão a ser ocupados por imigrantes, nomeadamente brasileiros. E ainda bem, acrescento eu, haja quem trabalhe!Porque na minha aldeia, onde há dezenas de anos se produzia tudo desde o arroz ao vinho, do centeio ao azeite, etc. numa economia de autosubsistência que hoje não tem condições nem razões para existir, onde antes havia um "jardim" variado e cuidadosamente tratado, hoje quase só há mato.E se alguém se dispõe a gastar uns cobres para plantar umas árvores, não há quem abra os buracos, nem ajude na poda e na cura. Não há ninguém para trabalhar, ouve-se a cada passo.
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O que é que se passa?O que se passa é que temos uma população envelhecida e muitos velhos vivem miseravelmente. Devem ser ajudados, devemos dar-lhe o peixe.Quanto aos outros devemos ensiná-los a pescar. O que leva o seu tempo e pressupõe que eles querem aprender.
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Ora o que se passa é que muitos não querem. Ou querem outros peixes.Enquanto isto não for entendido por muita gente, muita gente reclamará o peixe que não há.
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Pelo menos nos tempos mais próximos. O Pinho não disse bem isto. Mas era o que ele queria dizer e tem-lhe faltado coragem para o dizer cá dentro.

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