Burning Bush é um filme documentário, reconstituição inocuamente ficcionada, dos acontecimentos que se seguiram à invasão dos tanques russos, invocadamente em nome do Pacto de Varsóvia, estreado em Junho passado nos EUA, principia com auto-imolação de Jan Palach e tem a duração de quatro horas, divididas em duas partes. Longo e amenizado com uma ou outra cena de humor ou descontracção íntima, o filme prende o espectador do princípio ao fim, sobretudo se na plateia, como era o caso ontem à noite, se sentam contemporâneos dos acontecimentos projectados na tela, certamente muitos deles checos residentes há várias décadas nos EUA.
Naquele dia 20 de Agosto, a divulgação da violenta repressão russa provocada pelo sacrifício de Jan Palach provocou ondas de choque que viriam abalar definitivamente muitas convicções até aí iludidas por um regime que prometia o auge da solidariedade humana. Naquele dia começou o levantar da cortina que haveria de mostrar, escancaradamente, 21 anos depois, as misérias da filosofia do socialismo real.
46 anos depois, se muitas ilusões desabaram não se vislumbram por detrás do fragoroso derrube sinais de um mundo menos atormentado por confrontos entre os vários mundos em que se estilhaça o planeta e, em particular, a divisão entre o leste e o oeste europeu. Em Burning Bush lamenta um personagem que, mais do que a ocupação russa, seja a subordinação de muitos checos ao ocupante o suporte fundamental da repressão a que o país estava sujeito. Aconteceu o mesmo em vários países ocupados pelos nazis, acontece sempre em casos semelhantes porque na heterogeneidade da condição humana cabe sempre muita falta de carácter.
Burning Bush, uma obra que vale a pena ver.
2 comments:
Excelente e oportuna evocação, caro Rui
Obrigado, António.
Por onde tens andado que não tens aparecido na Quarta?
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