"As coisas valem o que dão por elas", nem mais nem menos.
Num leilão realizado hoje pela Christie´s de Londres "My Bed", de Tracy Emin, foi arrematada por 2,2 milhões de libras, mais de 3 milhões de euros.
"My Bed", criada em 1998, foi incluida na "shortlist" de obras concorrentes ao Turner Prize para jovens artistas britânicos em 1999. Não ganhou o prémio mas ganhou notoriedade que persiste. Encontrava-me em Londres, na altura, e dei um salto à Tate Gallery. No espaço da exposição, destacava-se pelo número de observadores à sua volta, uma cama desfeita, marcada por nódoas denunciantes de múltiplas e variadas fornicações, preservativos, cuecas com manchas de menstruação, drogas, seringas, comprimidos, e outros lixos. À saída fiz-me a pergunta imberbe: Que faria eu com uma porra daquelas se ela me calhasse numa rifa? Charles Saatchi, sponsor do Young British Artists (YBAs) adquiriu a cama por 150 mil libras e instalou-a num quarto em sua casa. Mudou hoje de mãos por vinte vezes mais. Três milhões de euros equivale a uma acumulação mensal de cerca de 5555 euros de poupanças mensais durante 45 anos, o espaço de tempo normal de trabalho de um indivíduo bem remunerado. À redundância de que "as coisas valem o que dão por elas" pode juntar-se uma outra: há gente que vale muito e depressa. As transmissões do mundial deste ano são frequentemente ilustradas com os valores fabulosos porque foram ou esperam ser vendidos os craques da bola. Não poucos deles valem mais do que uma dúzia de "My Bed".
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Noutra igualmente badalada obra de Emin Tracy, Everyone I Have Ever Slept With 1963–1995, a artista colocou dentro de uma tenda de campismo os nomes de todos aqueles com quem terá dormido desde 1963 (ano em que nasceu a 3 de Julho, faz amanhã 51 anos) até 1995, ano em que deu à luz a tenda.
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No mesmo leilão da Christie´s foram ainda vedetas "Gran ocra amb incisions" de Antoni Tàpies, por mais de dois milhões de euros, constituindo um record das obras do artista em leilão, e "Study for Head of Lucian Freud' de Francis Bacon, vendida por mais de 14 milhões de euros!
Fora deste leilão, ocorre-me repetir neste caderno, uma obra mural sobre a imoralidade que já coloquei há uns dias atrás.
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