A acusação é de Daniel Bessa. Na realidade, Bessa refugiou a acusação numa expressão dissimulada: "O responsável número um da nossa desgraça é um banqueiro central".
"O engenheiro Sócrates é muito responsabilizado,
e não há ninguém que o responsabilize mais do que eu, mas eu vejo-o
como aquele egípcio que tomou os comandos do Boeing que se precipitou
sobre as Torres Gémeas". Mas essa não é a
responsabilidade maior. A responsabilidade maior é do mentor, não é do
executante, e o mentor estava no Banco de Portugal", disse Bessa, fazendo rir a assistência." "o mentor "disse que a partir da
entrada no Euro, uma pequena economia aberta e financeiramente
integrada, no regime de moeda única, não tem restrições financeiras.
Endividar até sempre".
Acerca das responsabilidades de Constâncio na nossa desgraça (para usar a expressão de Bessa) já anotei neste caderno muitas dezenas de apontamentos durante os últimos oito anos, começando a observar-lhe a pusilanimidade muito antes do espoletar da crise. Concordando, embora, em alguma medida, com a acusação de Bessa, considero-a inexplicavelmente extemporânea e implicitamente desculpabilizadora de outros grandes culpados, com particular destaque para os banqueiros. Bessa sempre dispôs de muitos palcos para se pronunciar. Alguém o ouviu em tempo oportuno contrariar a tese que citou de Constâncio? Se o fez, fê-lo de modo inaudível.
Atribuir a Constâncio a responsabilidade primeira pela nossa desgraça sem citar nenhum dos outros participantes - a banca em geral - e considerar o papel dos políticos, com especial destaque para Sócrates, como de executantes de um desígnio errado, é manifestamente redutor de uma realidade mais complexa. Não fomos, sem somos todos culpados - a generalização é desculpabilizadora -, mas também não houve, nem há, o maior culpado - a designação, ainda que encapotada, de um bode expiatório é igualmente subliminarmente desculpabilizadora de todos os outros.
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Correl.- A cada qual, o principal responsável
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Correl.- A cada qual, o principal responsável
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