No tempo em que não havia televisões havia imaginações.
Era o tempo em que o ego dos portugueses inchava o que podia, a ver, ouvindo, as derrotas que os rapazes do hoquei em patins infligiam a todos quantos lhes aparecessem pela frente, salvo se fossem espanhóis ou italianos, aí as coisas fiavam mais fino, e o tempero patriótico redobrava o desgosto se ganhavam os castelhanos. Os locutores radiofónicos imprimiam tal entusiasmo aos relatos que não havia nenhum português legítimo que não visse mesmo visto a bola a girar quase à velocidade da luz entre os patinadores portugueses para se anichar na rede dos adversários. Seriam raríssimos os que algumas vez tivessem visto ao vivo uma batalha daquelas mas a ninguém escapava o traçado das jogadas que tinham levado aos golos. Hoquistas e ciclistas rivalizavam em popularidade com os futebolistas mais destacados da altura, mas só os equilibristas de cacete em punho mostravam nas disputas com estrangeiros de que massa tinham sido feitos os portugueses.
Um dia arribei a Lisboa, e pouco tempo depois fui ver um jogo no ringue.
Uma desilusão total. A bola, pequena e preta, rodopia em distâncias curtas, escapa-se à visão do espectador menos habituado à dança, anda por trás e pelos lados das redes, só se sabe se é golo quando os goleadores levantam os cacetes a celebrar o sucesso. De tal modo que continuo convencido que melhor que ver um jogo de hoquei em patins é ouvi-lo pela rádio. Ou, simplesmente, ler as notícias.
Por exemplo, esta: Portugal arrasa a Alemanha em goleada por 13-3.
Caramba. No fim, nem sempre ganha a Alemanha.
1 comment:
É a magia da rádio!
Apesar de Portugal não ter conquistado a vitória no campeonato da Europa, este 13 a 3 soube mesmo bem, até porque o desporto não se resume ao futebol :)
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