A., voou para os EUA há quase vinte anos, volta uma vez por ano por períodos de duas a três semanas. O irmão, que voou poucos anos depois na mesma direcção para se radicar mais tarde no centro da Europa, raramente aparece por cá, talvez desencantado com o país onde nasceu. A., gosta de voltar a pisar os caminhos antes percorridos. Há dias, ela e o marido, estrangeiro, para se deslocarem a Lisboa preferiram o combóio à viatura à sua disposição. Voltaram antes da meia noite e A., vinha chocada com que viram e ouviram à juventude que vinha no combóio: uma linguagem altamente desbragada a acompanhar comportamentos insólitos.
- É corrente, agora, este tipo de conversas em Portugal?, perguntava incrédula.
- Não sabemos. Não andamos de comboio, fica-te mais dispendiosa a viagem de combóio que o transporte em viatura própria se residires longe das estações e não haver, como geralmente não há, ligações de autocarro adequadas.
- Não pode ser.
- Pode, pode, as contas são fáceis de fazer. Mas, a propósito desse tipo de conversas, também te devo dizer que, não andando nós de combóio, não nos podemos escapar de vez em quando à audição desse tipo de linguagem de gente jovem, entre rapazes e raparigas, em qualquer local público.
- É espantoso.
- Não tanto. A moda não é recente, creio eu. Simplesmente, generalizou-se. Talvez por verem as séries made in USA ... Sabes que a quase totalidade das produções de origem estrangeira que passam nos canais de televisão ou nos écrans dos cinemas são de origem norte-americana. A população portuguesa bebe o north american lifestyle às litradas, e a juventude é naturalmente a mais permeável.
- Não acredito. Nunca, que me lembre, alguma vez ouvi nos Estados Unidos alguma coisa, sequer parecida, com o que ouvimos neste combóio entre Lisboa e Cascais. Lá, aquela linguagem, garanto-te, simplesmente não existe.
- Talvez exista em meios que não frequentas ...
- Hollywood, queres tu dizer?
- Hollywood não conta as histórias de pessoas normais, as pessoas normais, já se sabe, não têm histórias que interessem às pessoas normais. Para a juventude que as vê, as histórias de hollywood sustentam-se em estereótipos que induzem a imitação tanto nos comportamentos como nas expressões.
- É possível. Lá em casa vê-se pouca televisão.
- O puritanismo norte-americano também tem rombos de alto lá com eles ...
- ... mas a sociedade em geral comporta-se com grande civismo. Por exemplo, as carruagens dos comboios não apresentam o aspecto degradado das que se vêm aqui e,
- ... pelo aspecto da carruagem imagina-se quem vai lá dentro.
- É isso mesmo, é o princípio das janelas partidas.
- ... pelo aspecto da carruagem imagina-se quem vai lá dentro.
- É isso mesmo, é o princípio das janelas partidas.
- Voltando à linguagem e ao comportamento juvenil de hoje, aconteceu-me assistir há dias a uma cena macaca: estavam uns miúdos numa sala a ver televisão, atentos, comprometidos. Chega o avô à sala e percebe que os garotos deliciavam-se com uma cena de um filme da Fox que envolvia conversa sobre sexo oral. Desligou o aparelho e deu conta do sucedido aos adultos. Ficou mal visto por todos. Afinal aquilo era apenas uma história de uma violação, um filme da Fox, convém que os miúdos aprendam que há monstros à solta nesta selva em que vivem.
- Incrível teoria, não é?
- É uma teoria. E, nesta matéria, a cada qual a sua.
- Eu não compreendo.
- Ah! Voltamos a falar disso daqui a um ano. Valeu? Talvez nessa altura já tenham lavado a cara às carruagens dos tranvias.
- Incrível teoria, não é?
- É uma teoria. E, nesta matéria, a cada qual a sua.
- Eu não compreendo.
- Ah! Voltamos a falar disso daqui a um ano. Valeu? Talvez nessa altura já tenham lavado a cara às carruagens dos tranvias.
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