(Comentário colocado aqui )
"Concordo que o sentido de responsabilidade não pode ser assumido apenas perante
a ameaça de punição porque deve decorrer de uma cultura de respeito pelos
valores éticos prevalecentes. Divirjo, no entanto, da sua afirmação de que
"a cultura da responsabilidade anda há muito afastada da nossa
sociedade."
.
E divirjo porque
não me apercebo de um período da nossa história em que essa cultura de
responsabilidade (poderemos chamar-lhe civismo?) tivesse alguma vez assumido um
nível superior ao observado nos nossos dias. É verdade que, a julgar pelas
palavras hoje esquecidas (vergonha, honra, etc.) poderíamos ser levados a
concluir que o civismo na nossa terra já teve no passado dias melhores. Mas não
é verdade. Terão existido sempre algumas excepções notáveis à generalizada
mediocridade remida por penitências e bulas consoante os recursos dos
pecadores, mas hoje também não somos todos velhacos.
.
Aliás, a
consciência cívica de uma sociedade mede-se num intervalo que não vai de zero a
cem. Há actos eticamente reprováveis em toda a parte. A sociedade portuguesa
estará, no entanto, mal posicionada no ranking. Mas nunca esteve melhor. A
reforma protestante se não estabeleceu vincou uma fronteira de exigência ética
entre o norte e o sul. Daqui infiro que não
é uma cultura de responsabilidade adquirível por outra via que não passe pela
aplicação oportuna e universal da lei. Ora a percepção do que se passa em
Portugal é precisamente a sistemática inobservância destes requisitos
fundamentais ao funcionamento equilibrado de uma sociedade: a justiça é lenta e
atinge sobretudo os mais desprotegidos.
.
Chegado a este
ponto poderá perguntar-se se a maior perseguição da justiça aos pequenos terá
induzido nestes comportamentos cívicos mais elevados que os que caracterizam os
mais abonados. Em termos relativos estou certo que sim. *(Para lá) do efeito imitação que geram, que sobe da base para o vértice em simetria com o efeito exemplo com
percurso inverso, é inquestionável que as grandes transgressões ficam
geralmente impunes, por sentença ou prescrição, (fomentando a reincidência e o alastramento da impunidade nos estratos mais elevados da sociedade).
No meio de tanta porcaria
(desculpe o termo mas não encontro outro mais adequado) largada por banqueiros,
políticos e outros coniventes que deu à tona nos últimos decénios interroga-se
o cidadão comum: E ninguém vai preso? Se roubar um pão no supermercado, vai. Se
for apanhado por evasão de vários milhões ao fisco, não. Onde mora a ética se
anda tão ausente dos tribunais?"
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*Modificado relativamente ao comentário original.
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*Modificado relativamente ao comentário original.
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