Saturday, October 26, 2013

AINDA ACERCA DA INUTILIDADE DA MATEMÁTICA

Na entrevista com Alan Greenspan que ontem comentei, repeti  aqui o meu espanto com a implícita absolvição, que decorre da imputação das responsabilidades da crise à falibilidade dos modelos económicos, daqueles que montaram esquemas com que enganaram meio mundo, dinamitaram o sistema, e encheram os seus bolsos, e que nenhum modelo económico ou avaliação antropológica, psicológica ou outra poderia contemplar porque exorbitam das áreas científicas por serem do foro criminal.

Aliás, logo a seguir à violenta erupção da crise, mimosearam-se os economistas com acusações mútuas, sendo na oportunidade, naturalmente, mais empertigados os críticos das teorias ditas neoliberais, por serem supostamente os académicos os mentores das artes com que os banqueiros trapacearam meio mundo e colocaram as economias mais fragilizadas de patas para o ar. O testemunho de Greenspan, um liberal que enquanto jovem, frequentou o círculo ultra radical de Ayn Rand, alinha, deste modo, paradoxalmente, nas fileiras dos mais acirrados críticos das teorias que nortearam a sua carreira à frente da Fed, para abonação da conduta dos banqueiros.

Ainda assim, se são escassos os casos que até agora colocaram nos EUA alguns criminosos atrás das grades, dos quais Bernard Madoff foi o mais destacado, vários bancos foram multados (vd. artigo sobre o tema no Expresso/Economia de hoje) e muitos processos se encontram ainda pendentes de julgamento judicial. Considerando a relativa leveza das multas e a impunidade da generalidade dos autores dos crimes, os mecanismos financeiros subsistem propensos ao cometimento das mesmas fraudes sistémicas no futuro.

E em Portugal?
Nenhum dos contrafatores pagou nada, mas receberam muitos, presumidas vítimas de processos dolosos a que não aderiram ingenuamente. A uns e outros, banqueiros e cliente oportunistas, foram coagidos a pagar os contribuintes. Entretanto, sabe-se que o Ministério Público ainda existe pelas fugas de informação que fazem as delícias dos jornais e delegam as competências da administração da justiça na impotência da justiça popular.

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Correl . - «Os três principais administradores do Banco Privado Português (BPP) - João Rendeiro, Paulo Guichard e Fezas Vital -, receberam 6,4 milhões de euros em 2008, ano em que a instituição faliu. Só João Rendeiro, antigo presidente do conselho de administração, arrecadou 2,8 milhões, segundo uma tabela de vencimentos incorporada no processo de falência do banco, que corre no Tribunal do Comércio, em Lisboa. Os ordenados dos antigos administradores eram divididos em várias parcelas: salário-base, plafond de despesas, complemento "forex", prémio anual e outro plurianual.» (aqui)

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