Thursday, October 17, 2013

PORTUGAL : DOIS PAÍSES

"Nos primeiros nove meses de 2013, foram vendidos em Portugal 91.782 veículos automóveis, o que se traduziu numa variação positiva de 5,7 por cento relativamente ao período homólogo de 2012. No mês de setembro, as vendas registaram um aumento homólogo de 14,7%, tendo sido comercializados 8.826 veículos ligeiros e pesados", lê-se num comunicado da ACAP - Associação Automóvel de Portugal (ACAP) referido aqui. Em Fevereiro uma outra notícia - BMW, Mercedes e Audi lidera subidas de vendas de carros em Portugal - poderia também suscitar a pergunta colocada aqui : Será que existem mesmo dois países em Portugal?
 
Claro que existem, e não precisamos de recorrer às estatísticas de vendas de carros para constatar uma evidência realçada desde sempre por muitos indicadores. Abstraindo-nos, contudo, do molho de inúmeros indicadores caracterizadores de um dualismo crónico, e atentando apenas naqueles números divulgados pela ACAP, este dualismo de agora não decorre, ou não decorre fundamentalmente, do facto de existir um país formiga - que produz e ganha para comprar carros novos - e outro país cigarra que não produz e se entretêm com discussões estéreis que os distrai do trabalho e não lhes dá rendimentos.  
 
Não, a razão é outra.
O Governo tem, em grande parte, tentado combater a crise com medidas inevitavelmente geralmente redutoras do poder de compra, genericamente designadas por medidas de austeridade. Acontece que a incidência dessas medidas tem sido, e continua a ser, claramente discriminatória, atingindo desigualmente os diferentes estratos da população. No meio da crise há muita gente poupada pelas medidas de austeridade que, eventualmente, terá visto mesmo o crescimento dos seus rendimentos. São estes que compram carros novos, grande parte dos quais de gama alta. Provavelmente, alguns destes até serão cigarras.
 
A iniquidade fiscal é um facto facilmente demonstrável pela gritante desigualdade da imposição fiscal para os mesmos níveis de rendimentos.

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