Wednesday, August 01, 2012

SEGURANÇA E PARASITISMO SOCIAL

De volta a casa, entretivemos a viagem com a discussão de algumas das questões com que se indignam os portugueses. Como sempre acontece, nestes casos, começa-se a conversa por uma ponta e, se não se segura bem o novelo, passado pouco tempo perde-se o fio à meada.

- O problema maior de tudo isto é o sistema de segurança social. Um tipo se tem um subsídio de desemprego ou de reinserção social assegurado, dedica-se à vadiagem e manda o trabalho às urtigas. Se perde o emprego, não procura trabalho, vai à procura de subsídio. É por isso que não há crescimento económico. É por isso que há desemprego. É por isso que as contas públicas estão como estão e o Estado está falido.

O discurso instalou-se e o estado social passou a ser o bode expiatório dos nossos descontentamentos.
A confusão entre segurança social e parasitismo social está generalizada, e a auto reclamada esquerda é em grande medida responsável pela percepção de laxismo, oportunismo, golpada,  que os casos individualmente conhecidos ou relatados pelos media colam à imagem progressivamente distorcida do estado social. 

- Há fulanos a viver do rendimento social de inserção que nunca fizeram nada de verdadeiramente útil na vida. Os ciganos, por exemplo. Mentem, barafustam, ameaçam, vivem dos subsídios do estado, deslocam-se em carros de gama alta, ganham montes de dinheiro com o tráfico de droga. 
Não há trabalho? Como não há trabalho? Há ruas sujas, estradas por reparar, jardins públicos por tratar, há terras por cultivar, há tanta coisa para fazer...Como é que não há trabalho?

Quem é que pode contestar consistentemente este discurso?
E, no entanto, ele esquece e  branqueia todas as causas maiores que afogaram este país em dívidas, públicas e privadas, fizeram rastejar e cair o crescimento económico, comprometeram o futuro da solidariedade social, sem a qual nenhuma sociedade é humanamente desenvolvida.  

- Já não havia dinheiro para pagar salários - quanto mais subsídios ... Na Suíça não há subsídios, e a Suíça é um país rico. 

Pois é. 
Qualquer observador externo é levado a considerar uma extravagância de um país pobre o pagamento de subsídios de férias e de Natal, esquecendo que esses subsídios são parte da remuneração, são salários, não são subsídios. Um dia propus na empresa onde trabalhava que se pagassem os salários em 12 mensalidades, e não 14, dividindo remunerações anuais por 12. O impacto sasonal negativo sobre a tesouraria em tempos de redução de facturação (Verão e fim do ano) seria eliminado e a propensão dos trabalhadores para gastos perdulários reduzida. A proposta foi violentamente  criticada e liminarmente rejeitada pelos sindicatos.

- Os tipos dos sindicatos são estúpidos.

Não diria isso. Diria antes que acima dos interesses dos trabalhadores, que dizem defender,  colocam os seus próprios interesses. A contestação permanente faz parte dessa defesa dos interesses próprios dos  sindicalistas. Essa é a razão pela qual se eternizam nos cargos. 

- Mas, aos pensionistas dos sectores privados também foram cortados os subsídios?

Pois foram.
E não são nem foram funcionários públicos. Os argumentos invocados pelo governo para tratar de modo desigual a função pública não são aplicáveis aos pensionistas do regime geral da segurança social, mas cortaram. Cortaram aquilo a que chamam subsídios mas que são, na realidade, duas prestações das 14 em que dividiram, discricionariamente, os valores das pensões anuais.
Mas nem todos foram atingidos: os bancários, por exemplo, continuam a não estar abrangidos pelo contributo para a solidariedade social. O sistema está eivado de situações parasitárias.

- Seria bem melhor acabar com ele.

Nenhuma sociedade evoluída pode continuar a sê-lo se não existir solidariedade entre os seus membros. Sem solidariedade não há desenvolvimento humano mas retrocesso. Mas é imprescindível desparasitar o sistema. O parasitismo é sempre causa do definhamento da árvore por mais deliciosos e necessários que sejam os seus frutos.  

7 comments:

Anonymous said...

" a propensão dos trabalhadores para gastos perdulários".Lá está o Senhor com as suas ideias fixas que soam alto mas não dizem nada e contituem um erro.
O que são gastos perdulários? O Senhor tem uma cartilha onde figuram os gastos perdulários e os não perdularios? Ou será uma ementa? A propósito ,será que defende que determinados pratos devem saír da lista por conduzirem a gastos perdulários?
Esse pensamento é que constitui um branquamento.
Um gasto é perdulario quando aquele que o faz mão o pode suportar, seja entidade Publica ou privada.Assim, no que se refere a gastos publicos só há que levar a julgamento aqueles que conhecedores da situação finaceira neles incorreram. E não há que ser brando.
Quanto aos privados , há que julgar os seus cumplices da banca e a eles no maximo entrega~los ao psiquiatra. Exceptuo naturalmente aqueles que por razões diversas ficaram sem emprego.

rui fonseca said...

Gastos perdulários são gastos excessivos.
E não é preciso grandes demonstrações para concluir que no Natal há muitos gastos perdulários
resultantes do recebimento em duplicado salário normal.

Quer alguns exemplos: as compras de brinquedos que, em muitos casos, excedem a capacidade das crianças os usufruirem a todos; as ofertas inúteis que se deitam fora ou arrumam sem préstimo; a compra de bebidas importadas de alto teor alcoólico.

No Verão, quantos subsídios não são utilizados em férias em praias estrangeiras porque se o meu colega foi eu também quero ir.

Dir-se-á: cada qual faz do dinheiro o que bem entender. Eu acrescento: e do crédito também.

Foi assim que o país se endividou até aos gorgomilos.

Anonymous said...

Como eu esperava de facto a cartilha existe . Mas será que tem o direito de ser o juiz dos consumos dos outros? Ao ler o que escreve pode-se concluir que se deve acabar o turismo internacional? Só se for para praias? E por inveja? E se não houver inveja e for para o campo? Já não é perdulario?
Por mim penso que não tenho o direito de catalogar o que é ou não perdulario, mas tenho todo o direito de pedir responsabilidades aqueles que geriram o património de todos de forma a endividarem-nos,e também é lógico que não seja solidário com aqueles que não sabem fazer contas.

rui fonseca said...

"mas tenho todo o direito de pedir responsabilidades aqueles que geriram o património de todos de forma a endividarem-nos..."

Sem dúvida.

Não se esqueça, contudo, que a dívida privada dos portugueses é bem superior à dívida pública.

Tem ouvido as notícias acerca do número de famílias que se têm declarado insolventes?

Sabe, certamente, que numa sociedade as dívidas dos outros também têm reflexos negativos na vida dos que nada devem a ninguém.

Sabe certamente que temos um saldo crónico negativo na balança comercial e foi o acumular desse saldo negativo e a incapacidade de inverter a tendência que se tinha acelerado que também levou ao pedido de ajuda externa e às medidas de austeridade.

Sabe certamente que esse desequilíbrio não decorreu apenas do excesso de consumo público mas também do consumo privado importado.

Isto, não é cartilha, como lhe chama, mas uma lamentável realidade.

Há responsáveis maiores? Claro que há. Os políticos e os banqueiros.

Mas essa responsabilidade decorre de acções irresponsáveis e de omissões que o não são menos.

Entre essas omissões está a falta de alerta para os consumos que estão para além das possibilidades de cada um.

Porque mais do que viver acima das suas possibilidades a sociedade portuguesa viveu ao lado delas. As que tinha (poupanças ou crédito) dirigiu-as em muitos casos para fins sem proveito futuro.

Anonymous said...

Não há duvida que o Senhor finge não compreender ou não compreende mesmo tão cego que fica com as meias verdades que repete, repete, repete...
A cartilha está no facto de querer arrogar-se o direito de definir o que são consumos superfluos ou não.
E se os outros não concordarem consigo e considerarem que isso ocorre com outros que o Senhor considera adquado?
No fundo o que Vc parece hesitar é em condenar e exigir julgamento da escumalha que nos tem governado e tambem não tem coragem que quem não sabe se governar não merece solidariedade.Lá diz a cançãp " cabeça não tem juizo o corpo é que paga.

rui fonseca said...

"Vc parece hesitar é em condenar e exigir julgamento de quem nos tem governado"

Não deve ter lido o que tenho escrito sobre o assunto.

Não é meu costume, é verdade, usar determinado tipo de linguagem.

Quanto à liberdade das escolhas individuais, se ela fosse ilimitada a vida em sociedade seria impossível.

Volto a um dos exemplos que dei anteriormente. Sabe que a média de consumo de alcool por pessoa é, em Portugal, das mais elevadas do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde?

Sabe que um dos segmentos onde se tem observado maior aumento é nas bebidas de alto teor alcoólico importadas?

Sabe que na Suíça e nos EUA, só para dar dois exemplos, a venda deste tipo de bebidas está restringido a raras lojas especializadas

Tem visto o que se passa entre nós quanto a esta questão quando vai ao supermercado, sobretudo na época do Natal?

Sabe que temos ainda dos maiores indíces de mortalidade de jovens na estrada em consequência do excesso de alcool no sangue?

Isto não lhe diz nada?

Anonymous said...

Efectivamente para evitar usar um certo tipo de linguagem que seria o adequado limito-me a constatar que em taurmaquia a isso se chama crença e em linguagem comum se diz : "mas o que é que tem a ver o c. com alças"?Ou isto não está na cartilha com que pensa que se deveria governar?