O Expresso de ontem publica mais um artigo de Paul De Grauwe - O BCE deve mudar o modelo de negócio - onde o professor da Universidade Católica de Lovaina continua a sua habitual crítica à actuação do Banco Central Europeu. Para De Grauwe, e provavelmente para a generalidade daqueles que podem intervir na matéria, "o BCE é a única instituição que pode evitar o pânico nos mercados da dívida soberana empurre os países para um "mau equilíbrio". Um título e uma conclusão pacíficos para um texto estranho.
Estranho, porque De Grauwe, um professor de reconhecido prestígio internacional, exige do BCE um conjunto de acções que o BCE não está mandatado para accionar. Que o BCE não faz aquilo que deveria fazer porque não pode, ficou mais uma vez demonstrado a semana passada quando o senhor Draghi teve de recuar de um discurso animador, desautorizado pelo senhor Jens Weidmann, o mais poderoso presidente do Bundesbank. Weidmann, aliás, foi mais longe e comparou, na ocasião, os países endividados da União Europeia aos alcoólicos, e afirmou que a disponibilidade do BCE de comprar dívida soberana para ajudar os Estados em maiores dificuldades seria o mesmo que "dar um último trago a um alcoólico".
Perante estas declarações, que só podem ter o suporte do governo alemão, que capacidade de manobra tem o presidente do BCE num espaço tão encolhido? Demitir-se? Draghi, quando aceitou o cargo, conhecia as limitações do seu mandato. Apesar da sua inquestionável experiência e "savoir faire", Draghi é mais um encolhido de um conjunto de pseudo líderes que enquadram milhares de burocratas, principescamente bem pagos, que, no seu conjunto, representam a maior e mais redundante superestrutura política que alguma vez foi montada.
O Parlamento Europeu, a Comisão Europeia, o Banco Central Europeu, chegaram a um ponto de vacuidade de onde já não é esperável que possa sair qualquer ar fresco. Ninguém se demite porque os honorários são invejáveis, as instalações magníficas e a situação geográfica privilegiada. Mas a grande maioria é redundante.
A senhora Merkel só não manda a troica analisar os custos/benefícios da União porque ainda é cedo para denunciar os seus propósitos escondidos. E se Merkel não manda, ninguém ousa. Hollande calou-se, Cameron distanciou-se e ameaçou com um referendo nas Ilhas, Monti faz o que pode, mas não pode muito, Rajoy está cada vez mais perdido no meio da fúria espanhola.
Entretanto, a vaga dos eurocépticos eleva-se cada vez mais alta um pouco por toda a parte, mas a desintegração da União não será pacífica.
Se continuar por este caminho, o rentável negócio dos encolhidos pode fechar dentro de pouco tempo.
Se continuar por este caminho, o rentável negócio dos encolhidos pode fechar dentro de pouco tempo.
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