A Felícia era uma mulher das arábias, lá em casa quem dava ordens era ela. O Silvestre, desobrigado da responsabilidade de decisão, limitava-se a ouvir e a proceder em conformidade. Viviam em união de facto, naquele tempo o estatuto não era reconhecido pela lei mas era confirmado pela sociedade, e geralmente funcionava sem incidentes notórios a vida inteira. Em casa do Silvestre, a Felícia mandava, o Silvestre obedecia, viviam ambos felizes, só não tinham tido meninos por razões que ninguém sabia.
Um dia, a Felícia ia chegar tarde a casa e disse ao Silvestre que fosse adiantando o jantar, que na ocasião era arroz de feijão com umas coxas de frango fritas. Deu a Felícia as devidas instruções ao Silvestre, que ele garantiu mais tarde ter cumprido à risca, mas o arroz saiu-lhe espapaçado e as coxas de frango tão esturricadas que a vizinha do lado ficou alarmada com o cheiro que inundara a escada e foi bater-lhe à porta a perguntar se havia algum azar.
Que não, repondeu-lhe o Silvestre, estava tudo como devia, nenhuma preocupação à volta, estava só à espera da Felícia.
Lembrei-me desta cena simplória quando li que o Governo está à espera da troica para resolver o problema do défice.
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