Wednesday, January 05, 2011

ALEGRE COM DEZ REIS DE MEL COADO


Teresa Caeiro referia-se a uma campanha publicitária do BPP em que participaram, além de Manuel Alegre, o social-democrata José Pacheco Pereira, o músico Pedro Abrunhosa, o escultor João Cutileiro, o advogado Proença de Carvalho, o pintor Julião Sarmento, entre outras personalidades.

Segundo o próprio Manuel Alegre afirmou ao "Diário de Notícias", em Dezembro de 2008, assim que se apercebeu da situação do BPP devolveu o cheque de 1500 euros relativo ao pagamento da sua participação na campanha publicitária.

Toda a gente, que se queira lembrar, se lembra que durante meses o Expresso publicou nas duas primeiras páginas da Única anúncios dessa outra instituição de logros que se chamava BPP, que, a par do BPN, constituem, para já, os exemplos da sordidez que atingiu o sistema financeiro em Portugal.

Nunca percebi como é que gente distinta e de vários quadrantes políticos se dispunham a escrever, ou a subscrever,  um texto mais ou menos desmiolado que o criativo da agência publicitária acompanhava de comentários vendedores dos supostos méritos do banco publicitado. E perguntava-me: Quanto ganha este tipo para se prestar a este papel ridículo? Imaginei uma quantia fabulosa admitindo que, afinal, talvez seja verdade que todo o homem, ou mulher, tem um preço e que o daquela gente fina deveria ser muito elevado.
Dez mil euros?
Cinquenta mil?
Cem mil?
Por quanto venderia Proença de Carvalho, um advogado afluente e influente, para dar a cara por aquele banco privado? Provavelmente seria advogado do banco e o seu cómico testemunho estaria incluido na conta.

E Manuel Alegre? Por quanto teria vendido a sua pena? Imaginei uma pequena fortuna porque, lá está, se todo o homem tem um preço, o preço de um poeta teria de corresponder à sua grandeza. Cem mil?

Não. Afinal foram 1500.
Como é que a pena que escreveu Nambuangongo, meu amor se submeteu a uns trocos de uma tença bancária? Antes o tivesse feito por uma boa margem entre a compra e a venda de umas acções do banco. Mas por 1500 euros, Manel? Vales tão pouco?
Ainda por cima os devolveste, nem precisavas deles, e a tua valia nem sequer foi condicionada por eventual indigência.

18 comments:

António said...

Coitadito, quando lhe pediram para escrever aquilo não lhe disseram para que era, nem para quem. Ele até só queria o dinheirito para comprar duas espingardas, as mais caras do mundo, diga-se, e assim que lhe disseram que não devia fazer aquilo de acumular o vencimento pago por nós em exclusividade com o pagamento do frete ou biscate que estava a fazer, muito relutantemente acedeu a devolver os 1500 euritos (só, ou tanto, pelo que vale um tipo que nunca fez nada na vida a não ser viver à custa dos outros)que lhe pagaram para fazer o frete. Tal como as p...., gosta de vícios caros, mas não tem dinheiro para eles. Vendeu-se mais uma vez. Uma p... velha com casaco de peles novo...
Não difere em nada das que andam nas bermas das estradas.
Elas por mal delas, ele por bem dele.

LEOLEO said...

A pessoa cuja " pena que escreveu Nanbuangongo meu amor" também aos microfones de Radio Argel terá relatado operações das forças portuguesas em Africa que poderiam custar muitas vidas aos nossos militares.Um homem destes, a ser verdade, merecerá 1500 € para promover algo? Só numa sociedade doente.
A propósito seria bom que Manuel Alegre que ainda hoje disse que o seu passado pode ser clarificado esclarecesse se os conteúdos das suas intervenções na radio podiam ou não contribuir para a morte de compatriotas seus.

António said...

...o seu passado pode ser clarificado...

E não só.
Como é isso de receber uma reforma da rádio e alegar que nem se lembrava de lá ter trabalhado. Trabalhar, não trabalhou, mas recebeu e continua a receber.
Quanto ao que fez antes, durante e após a sua deserção, porque é de um desertor que se trata, não convém voltar a meter as mãos no sangue.
No Sangue de Portugueses, que ao irem ao encontro da morte não sabiam quem a tinha mandado. Esse mandante é o mesmo que agora diz que não se vendeu por 1500 euros, de cada tranche, digo eu, que isso de comprar armas feitas totalmente à mão, por medida do cliente, não vai lá nem com 150.000, quanto mais com 1500.
Gosta de armas para abater seres indefesos, nada lhe custa no que diz respeito a sangue.

aix said...

Fazer publicidade de um produto à altura inócuo, seja qual for o 'cachet' não é, parece-me a mim,criticável,muito menos,
condenável.Já o é se for feita em contexto de ilegalidade(Deputado).
Vergonhosa é a delação,em campanha eleitoral,da apoiante de outro candidato,Teresa Caeiro.Por acaso mexeu no nosso bolso? São estas atitudes bufonas e pidescas que levam a política aos níveis mais baixos, desacreditando-a.Já a denúncia dos relatos da rádio Argel me parece que,se verdadeiros,
são politicamente extremamente
graves.
Declaração de interesses: por estas (e por outras)nestas eleições não sou votante.

António said...

Primeiro andam todos a atirar caca para o ventilador.Segundo: Estão cheios dela. Terceiro: Com tipos a cheirar mal desta maneira, não quero nada.
Aix,
vá votar, não falte. Vote em branco anule o voto, escreva um palavrão, mas vá dizer que estes tipos todos são muito rascas para um país destes. Destes, como era antes da chegada deles.
Deram cabo disto tudo.
Sacanas!!!

rui fonseca said...

"Vergonhosa é a delação,em campanha eleitoral,da apoiante de outro candidato"

Caro Francisco,

Desculpa-me mas desta vez não concordo contigo. Se a delação (para utilizar o teu termo) é criticável, então nunca conheceriam os votantes os candidatos. Ora as campanhas eleitorais fazem-se também para sabermos quem são e o que têm feito na vida.

Manuel Alegre escreveu um texto claramente publicitário ainda que e ele invoque que é literário. Não é. Como disse no meu apontamento, fiquei espantado, na altura,que Alegre, e muitos outros personagens públicos, tivessem dado a cara por um banco de investimentos.

É ilegal? Parece que não ainda que há levante a questão de o ter feito quando era deputado e haver incompatibilidade.

Não discuto a eventual ilegalidade mas discuto a responsabilidade dele, enquanto homem público ter muito provavelmente induzido algumas pessoas a tornarem-se clientes do banco. Tem de ser esse o entendimento uma vez que uma acção publicitária nunca é inconsequente.

Aliás, o testemunho de Alegre, em termos publicitários (acção com objectivos) não se distingue dos testemunhos recolhidos pelos fabricantes de detergentes para venderem os seus produtos junto de clientes que se dispõem, a troco de duma retribuição, a dizerem que o tal produto é o melhor que há.

Evidentemente que a forma é outra. Um banco não se vende com os mesmos argumentos. Mas a história é a mesma.

Daí que, do meu ponto de vista, tanto Alegre, como Pacheco Pereira, Proença de Carvalho e muitos outros sejam objectivamente co-responsáveis pelo logro em que muitos cairam e que, no fim de contas, vai ser pago por ti, por mim, e por todo o contribuintes.

É essa a história que conto hoje em "Sonhos e rabanadas - 9".

Salvo melhor opinião.

aix said...

Rui, o facto de já aqui algumas vezes teres dito que a minha(nossa)discordância é para ti um estímulo estimula-me a discordar.Por pontos:
1-«Se a delação ... é criticável, então nunca conheceriam os votantes
os candidatos. Ora as campanhas eleitorais fazem-se também para sabermos quem são e o que têm feito na vida».
Aproveito:em tempos vi com os meus olhos,no pequeno relvado frente à capelinha do Restelo,o então Sr.Manuel Alegre na marmelada com uma Senhora.Como poderia não ser a legítima esposa não será despropositado acusá-lo, embora tardiamente, de ofensa à moral pública,imprópria de um futuro candidato a PR.Vamos à delação!
2-«Manuel Alegre escreveu um texto claramente publicitário ainda que ele invoque que é literário. Não é».É (pode ser) digo eu.Quem define o carácter literário não é o conteúdo mas a forma.Os sonetos pornográficos de Bocage são literatura (da boa,digo-to eu). O slogan de Alexandre O'Neill «há mar e mar, há ir e voltar» teve uma finalidade publicitára.
3-«É ilegal? Parece que não ainda que há [quem] levante a questão de
o ter feito quando era deputado e haver incompatibilidade». Quem a levanta deve é deitar-se (e dormir, se a consciência não o incomodar).Só faltava que um Deputado não pudesse escrever.A Natália Correia,então,fez pior quando em plena sessão da AR escreveu um epigrama dirigido ao deputado João Morgado:
«Já que o coito,diz Morgado
Tem como fim cristalino
Preciso e imaculado
Fazer menina ou menino;
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca
Temos na procriação
Prova de que houve truca-truca,
Sendo pai de um só rebento
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou para razão
Uma vez!
E se a função faz o homem,
Diz o ditado,
Consumada esse exceção
Ficou capado o Morgado».
Quão nefasto seria perdermos esta preciosidade se ao Deputado fosse proibido escrever!
3-«Não discuto a eventual ilegalidade mas discuto a responsabilidade dele, enquanto homem público ter muito provavelmente induzido algumas pessoas a tornarem-se clientes do banco». Então,caro Rui,era criticável angariar clientes (ou ser cliente)do BPP na altura do seu lançamento? Algum Banco quando criado tem como finalidade a vigarice?
4-Consideras ilícito,imoral,ou condenável alguém dizer que um qualquer produto é bom ou mesmo o melhor do mercado? No fundo é o que fazem [quase] todas as campanhas publicitárias.E não mentem porque a 'bondade' até em termos morais é subjectiva quanto mais em termos comerciais.
5-Desculpa o largo espaço que te roubei.

aix said...
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aix said...

Caro Rui,desculpa a repetição.Acredita, não foi para reforçar o conteúdo, foi azelhice.Abç

António said...

"É essa a história que conto hoje em "Sonhos e rabanadas - 9".

Salvo melhor opinião."

Não deixe de chamar os bois pelo nome. Você sabe, tão bem como eu, que ambos os bancos que sabemos, trabalhavam em esquema Ponzi.
Publicitários/angariadores/Quem- chega-primeiro-come-mais-e-sempre/os-do-fim-são-os-que-se-lixam.
Capicci?

rui fonseca said...

Caríssimo Francisco,

Claro que gosto dos pontos de vista contrários aos meus. Só deste modo se aprende.

Vamos lá então a estes teus pontos de vista:

1 - Uma personalidade pública é vista em manifestas actividades extra-conjugais.

É por demais evidente que a publicação da notícia pode interessar ou não à sociedade consoante os princípios, os tabus ou preconceitos prevalecentes.
Nos EUA poderá significar o fim de uma carreira política auspiciosa (caso de John Edwards, que concorreu à vice-presidência na lista de John Kerry). Em França ninguém ligaria a uma coisa dessas. Quem é que lá perde tempo com as vicissitudes matrioniais de Sarkozy? Muito poucos.

2 - Quando eu digo que o texto em causa é publicitário e não literário faço-o pelas razões que tu mesmo invocas: um texto publicitário não tem de ser uma menoridade literária; pode ser, admitamos, mesmo uma obra-prima de literatura.
O que define, para este caso, o seu carácter literário ou publicitário não é a forma mas o fim. Ele foi escrito, inequivocamente, para efeitos publicitários, e foi remunerado por essa razão.

Não está em causa o valor intrínseco literário do texto mas o seu propósito. Aliás, quanto maior for o valor literário maior o seu efeito pernicioso na influência que terá exercido para encaminhar clientes para o banco publicitado.

3 - Totalmente em desacordo. Meu Caro Francisco, o deputado Alegre ao subscrever um texto promocional a um banco colocou-se ao lado dos interesses desse banco.
Imagina que, num dado momento, é discutido na AR um diploma qualquer que possa atingir os interesses do banco. Como vota o deputado? Contra quem lhe pagou?
Talvez vote, talvez não. Nunca se sabe. Há conflito de interessses e o deputado, enquanto representante de quem o elegeu não pode alienar a sua independência face ao poder económico ou outro qualquer.

Quanto à Natália e ao Morgado, percebe-se perfeitamente que a Natália não estava a defender qualquer poder para além do seu.

5 - Totalmente em desacordo. Alegre não é um qualquer. É deputado. E pelas razões que atrás referi não pode dizer se este produto é bom porque isso significa a sua subordinação a outro poder que não o poder legislativo em que se encontra enquadrado por eleição do povo.

Não. Não penso que tenhas razão.

Salvo melhor opinião.

rui fonseca said...
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rui fonseca said...
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rui fonseca said...
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rui fonseca said...

Francisco,

Há problemas no sistema.
Desta vez aconteceu comigo. Repetiu-me o arrazoado uma caterva de vezes...

rui fonseca said...

"Publicitários/angariadores/Quem- chega-primeiro-come-mais-e-sempre/os-do-fim-são-os-que-se-lixam.
Capicci?"

Totalmente.
Tanto que nunca embarquei para paraíso desses.

António said...

Ora viu?
E há casos em que se gastava à tripa forra o que se ganhava em comissões de angariação...Até podiam comprar Purdeys, Cayennes, colecções de pintura a peso e assim.
Fora as férias, as festas nas ditas, restaurantes por conta, convidados pagos, champagne (o espumante dos franceses) aberto a sabre, ai, ai... Tudo em grande

rui fonseca said...

Ainda a trabalhar a estas horas, António?