Thursday, December 25, 2008

PRODUTOS FINANCEIROS

Chamam-lhe produtos mas nada os aproxima de qualquer dos seus homónimos: não têm indicação das matérias-primas utilizadas, não têm peso, não têm embalagem, e, muito particularmente, não podem ser devolvidos por falta de qualidade ou extinção do prazo de validade. Há já algum tempo, soube-se que o mercado tinha sido inundado de muitos deles com elevada taxa de toxicidade. Quem os conseguiu devolver a tempo teve de aceitar uma desvalorização considerável; os mais distraídos ficaram com eles em casa sem destino a dar-lhes.
Como são produzidos em sítios escondidos e muito longe dos olhares do público consumidor, ninguém sabe a forma como são cozinhados nem o estado de conservação dos ingredientes utilizados. A sua compra é uma questão de fé ou de permeabilidade às tentações publicitárias que os promovem.
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Há alguns anos atrás, ainda no tempo da outra senhora moeda, o gerente do balcão onde eu tinha conta notou que o meu saldo andava acima dos meus recursos normais e telefonou-me a propor-me "uma aplicação". Disse-lhe que o dinheiro não era meu, destinava-se a pagar o IRS logo que me chegasse a casa o aviso das finanças. Apareceu-me, poucos dias depois, na linha o "consultor financeiro", colega do anterior, sugerindo-me uma aplicação a três meses, seria uma pena ter aquele valor todo parado. Fui na conversa do "consultor" (consultor é sempre um perigo, se for financeiro é uma ameaça a detonar mais tarde ou mais cedo) e aceitei a proposta na condição de que não poderia correr nenhum risco de ver aquela verba diminuída na data em que tinha de pagar o imposto. Passados dois meses, estava a perder duzentos contos.
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Telefonei ao "consultor" dizendo-lhe que o produto não condizia com as especificações que lhe tinha transmitido e, consequentemente, queria devolver a encomenda. O "consultor", que nunca deveria ter ouvido na vida uma exigência semelhante, gaguejou e disse que não podia, aliás ainda faltava um mês para o prazo de vencimento, até lá as coisas compor-se-iam. Qual compõem, qual carapuça, quero o meu dinheiro na conta e já! Passados dois dias, estava o dinheirinho inteirinho na conta. Por portas travessas eu conseguira saber que o tinham aplicado em obrigações da República da Argentina e confrontara o "consultor" com o meu acidental conhecimento da aplicação do dinheiro destinado às finanças.
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Não foi a única vez que consegui devolver um produto financeiro, mas tenho de reconhecer que a devolução destes produtos ou é impraticável ou custa muito dinheiro a quem devolve.
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A ASAE deveria tomar conta do assunto.

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