Thursday, December 11, 2008

BOB E OS BOLBOS

Bob, sempre que encontrava alguém ligado ao negócio que lhe pudesse ter utilidade, batia-lhe nas costas e considerava-o o seu "my best friend". Àqueles que julgava mais úteis enviava-lhes pelo Natal uma caixa de bolbos para o jardim, quer os destinatários tivessem casa com jardim ou apartamento acanhado. Uma simpatia, o Bob. Gozava, porém, da reputação de esquecer amizades logo que a utilidade que gerava a amizade desaparecia, uma característica que ele não dissimulava e fazia dele um modelo invulgar de hipócrita ingénuo.
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Um dia mudou o presidente de uma empresa que era o seu "best friend" e a quem ele, pelo Natal, mandava bolbos há dois mandatos. Um dia, mudou o presidente, empurrado pelas razões políticas que outras razões políticas haviam nomeado, e o Bob foi apresentar credenciais ao novo titular do cargo. Após uma prolongada reunião preenchida com toda a arte de bem conhecer novos amigos, o novo presidente tornara-se, naturalmente, o "best friend" de Bob.
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Já a terminar o feliz encontro, e uma vez que se aproximava o Natal, o Bob perguntou ao seu novo "best friend" a morada para onde pudesse enviar, anualmente, uns magníficos bolbos que o seu amigo iria ver crescer e florir em cada primavera, mesmo sem grandes habilidades jardineiras. Tomou nota o Bob com todo o cuidado e evidência em letra lenta e firme do endereço, e a seguir rematou com a mais sorridente candura: Agora tenho de cortar da lista o A.
O A., é fácil perceber, era o presidente substituído.
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Um caso único, este Bob, de hipocrisia assumida. Ao longo da vida nunca topei senão com hipocrisia vulgar, aquela arte que, para verdeiramente o ser, é disfarçada. E que mais encontramos à medida que avançamos na idade.

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