Estava eu onde nunca estive, sentado nos Himalaias a ler o Katmandu Times a ver se a tosse me passava com as alturas, quando de repente me lembrei que tinha o carro a precisar da lavagem dos cem mil quilómetros. Como ainda faltavam cerca de três horas para ir para o aeroporto, fui buscar o carro à garagem e levei-o à estação de serviço mais próxima.
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Lá chegado, apareceu-me como lavador de turno, imaginem quem, nem mais nem menos que o líder-da-bancada-do-maior-partido-da-oposição, vestido à monge tibetano, uma esponja numa mão, a agulheta da água na outra, pronto para começar o serviço. Vinha mesmo a calhar, se não houvesse vaga imediata ou não lavava o carro ou perdia o avião. Por cá? perguntei-lhe eu. É verdade, não podemos sobreviver sem part-time.
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Cena seguinte: Diz-me o lavador: Está pronto.
Ponho-me de olhos piscos a confirmar o que vejo e vejo que o carro não está lavado mas tem o motor na bagageira e as rodas arrumadas no tejadilho.
Digo para o lavador: Não foi este o serviço que lhe pedi. O homem ficou embaraçado e disse que a lavagem incluia o serviço de revisão. Qual revisão, qual quê, o carro foi há dias à oficina para a revisão dos cem mil, protestei.
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Estava eu nesta perplexidade quando entra em cena outro monge tibetano, que percebi segundos depois tratar-se do líder-da-bancada-parlamentar-do-partido-do-governo, com a factura na mão: 750 euros, sendo 150 euros de material, quinze parafusos e treze porcas retiradas, e 600 euros de mão-de-obra. Perguntei-lhe: Mas o costume não é trabalhar o governo e facturar a oposição? Diz-me o tipo de seguida: Costuma ser mas a oposição que temos não sabe facturar. Quer com Iva ou sem Iva?
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Fiquei angustiado. Mas restabeleci-me logo a seguir, e sempre poupei setecentos e cinquenta euros. Nada mau para começar o dia.
2 comments:
Rui, parabéns pela bela descrição do teu sonho. Talvez só faltasse terminares: "acordei com azia", porque tudo isto que se está a passar (profes,bancos,políticos, juízes, advogados...)é puro surrealismo.Por mim sugiro que, em vez de parar 6 meses para reformar,o País, todo, fosse de férias a ver se regressava mais temperado e realista.
Obrigado Francisco.
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