O mais recente relatório do FMI diz o que muita gente diz: "Portugal vive acima das suas possibilidades há muitos anos", "Portugal tem estado a viver acima das suas possibilidades desde há muitos anos, obtendo financiamento do resto do mundo através do sistema bancário, aumentando o endividamento externo", "Portugal tem um problema de crescimento anémico da produtividade", "Famílias portuguesas têm que aumentar poupanças". Mas diz também que o
Sistema financeiro português continua robusto, sólido e bem supervisionado .
"Não há margem para afrouxar esforço de consolidação orçamental". "Manter simplesmente o défice abaixo de 3% não é suficiente". "Portugal vive acima das suas possibilidades há muitos anos". "Problemas que condicionam economia portuguesa são de raiz interna". Economia portuguesa cresce apenas 1% em 2009.
Há nestas conclusões do FMI algo de estranhamente contraditório: Por um lado, diz o que é vulgar dizer-se (os portugueses estão a viver acima das suas possibilidades há muitos anos), por outro lado, contudo, tece elogios à banca e ao supervisor dela.
Contraditório, porque se os portugueses têm andado a gastar mais do que podem é porque alguém lhes tem concedido crédito e esse crédito, confirma-o o FMI, tem sido concedido pela banca. A tal que está robusta, sólida e bem supervisionada.
É reconhecido que o FMI nem sempre acerta e muitos disparates económicos e financeiros têm sido prosseguidos em todo o mundo segundo a sua batuta. Neste relatório é difícil entender a quem atribui o FMI a responsabilidade, e portanto a faculdade de corrigir, os excessos que reporta, uma vez que iliba e tece hossanas ao sistema que incutiu esses excessos e ao supervisor que fez vista grossa.
Será exclusivamente culpado o devedor se o credor é descuidado? Mas se o credor não é ( ou não foi) descuidado o devedor é (ou foi) tido como solvente e, neste caso, não viveu (ou está a viver) acima das suas possibilidades. As possibilidades foram-lhes concedidas por um sistema que é robusto, sólido e bem supervisionado, o que significa que aqueles a quem concedeu crédito são suficientemente solventes e não vivem, portanto, acima das suas possibilidades.
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