O SILVA DO CASTELO

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Senhor Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz,

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Desculpe ocupar o seu tempo com uma questão que já lhe deve ter sido colocada muitas vezes. Só não me aflige tanto a consciência por esta impertinência porque provavelmente a minha missiva terá resposta de alguém habilitado que lhe poupará a si, senhor presidente, o tempo de a ler.

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Quero acreditar, que de qualquer modo, alguém lhe dará conta do seguinte:

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Há muitos anos que o "castelo do engenheiro Silva", salvo erro é esta a inscrição gótica que sobra dos escombros, está a cair de podre. De vez em quando, resolve a Câmara a que o senhor preside colocar uns painéis que disfarçam o avantesma em decomposição.

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Ora eu que sou figueirense mas emigrei muito novo, volto à Figueira sempre que posso, e frequento a esplanada sobranceira para rebobinar recordações e encher o peito de ar. Sinto-me rejuvenescer com o exercício mas quando me volto para trás confronto-me sempre com aquele fantasma de fraldas garridas e um turbante de lado a cair aos poucos. É um pesadelo que me persegue há décadas porque sou sensível ao desmazelo. A cada qual os seus sentimentos e eu nasci com aversão ao abandono da nossa memória urbana.

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Queixo-me a amigos e conhecidos e eles dizem-me que o castelo abandonado, o tal fantasma que parece um travesti, pertence à câmara e o dinheiro que a câmara já dispendeu com vestidos para os escombros dava para ter feito dele um castelo novo. Verdade ou mentira, senhor presidente, é o que corre.

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Eu, que nunca me prestei a veicular informações de que não esteja seguro, gostaria que me informasse se tem a câmara dificuldades insuperáveis em reparar o que lhe pertence ou se a intenção de vestir o castelo tem intenções que a mediania figueirense não atinge.

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Com os meus cumprimentos,