Há quem me diga que os crónicos, aqueles que têm banca garantida e remunerada para segregar as lamentações que muitos portugueses papam avidamente, serão chatos porque não passam do mesmo rito mas é difícil não concordar com os lamentos que vão chiando. Realmente, os crónicos cuidam das regras do marketing como o melhor ponte de lança na promoção de novos gadgets para télélés, sabem exactamente onde se anicham os pontos fracos do consumidor. E procedem em conformidade com as vulnerabilidades da condição humana.
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Os crónicos sabem que os seus leitores, em geral, preferem os desastres às reconstruções. Sabem também que a generalidade dos seus leitores considera que o país é uma choldra, como dizia o outro, mas os culpados são os outros. Sabe que são precisas reformas profundas mas se a pena da imputabilidade se aproxima deles sopram nela e manda-na tramar outro.
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Assim procede o Valente Vasco. Ontem falou da desigualdade para dizer que é uma asneira o que por aí se apregoa reclamando maior justiça social. Resumindo, diz o VV que se os 20% mais ricos ganham sete vezes mais que os 20% mais pobres, reclamar maior redistribuição é reclamar a distribuição de miséria porque os 20% mais ricos são em grande parte aqueles que fazem parte da classe média geralmente encostada ao Estado e arredores. Há, evidentemente, os grandessíssimos ricos, mas seria um contrasenso atingir suas invulnerabilidades porque deles depende o investimento, a inovação, a criatividade, o risco, de que o país precisa como do pão para a boca. O país, conclui mais uma vez VV, do que precisa é de trabalhar para gerar riquesa e tornar os pobres menos pobres.
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VV sabe perfeitamente para quem fala. O que ele não sabe, ou se sabe não diz, é como se atingem os resultados que recomenda, mesmo dando como acertada a posição que defende e que, por exemplo, Bruto da Costa contesta.
VV nem faz nem diz como se faz, simplesmente cronica e passa recibo.
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