Wednesday, March 12, 2008

OS PROFISSIONAIS

É frequente ouvir-se, a propósito da impreparação dos políticos, que somos governados por aqueles que abandonaram a universidade, ou nunca lá entraram, fizeram tirocínio a colar cartazes, ascenderam na escala partidária por entreajuda conivente entre comparsas, alcandoraram-se a posições que não sabem minimamente como lhes dar a volta. Vivem da promiscuidade entre as funções que exercem e os interesses espúrios que servem e lhes pagam por isso. E, deste modo, se perpetuam nos cargos e inibem a renovação da vida política. A má moeda expulsa, deste modo, a boa moeda. São os profissionais da política do bloqueio.
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Há, porventura, alguma verdade, mas não toda, nesta forma de olhar os políticos, muito idêntica à de quem se habituou nos estádios a gritar, fora o árbitro! para descomprimir os problemas familiares ou profissionais que os atormentam mas nunca se arriscou a dar um chuto na bola.
De tempos a tempos, fazem prova de vida alguns grupos de cidadãos que se dizem preocupados com o andamento e a rota do país, avançam com números de diagnóstico, prevêm o pior para daí a pouco, e depois metem a viola no saco para reaparecerem no terreiro, uns tempos mais tarde, a cantar a mesma balada cinzenta. Nenhum deles apresenta uma proposta, nenhum deles defende uma política concreta, nenhum deles arrisca a ser votado. Depois da balada tocada fica-nos no ar um sentimento de maior desespero e de nenhuma esperança.
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Ora toda a gente reconhece que, mais do que nunca, o exercício de qualquer função exige preparação adequada, especialização e traquejo. Se só o cirurgião experiente corta por onde deve, o advogado experimentado assegura a melhor defesa, o engenheiro senior garante que a ponte que projecta não se derruba às primeiras, por que razão não se reconhece que o agente político deve ser profissional para governar melhor? Há, aliás, uma lacuna, em que aparentemente ninguém repara, na grelha dos muitos cursos (demasiados, tantos que muitos vão acabar por falta de candidatos em número suficiente) que o ensino superior público oferece, e que tenho muita dificuldade em entender por que não é preenchida: a formação superior específica para quadros da administração pública.
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Há, evidentemente, casos de líderes que ascenderam a altos cargos da governação sem experiência anterior em cargos subalternos. Mas não é esperável que o Estado, sendo uma entidade altamente complexa, possa ser bem administrada geralmente por pessoas com curriculo político transitório. Não é com milicianos que se ganham as guerras, e dos mercenários não pode esperar-se devoção irreversível.
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O profissionalismo competente, por outro lado, exige remuneração compensatória sob pena de ser o campo da governação ocupado sobretudo por aqueles que não têm alternativas para a exiguidade das suas capacidades ou pelos oportunistas que investem na política para retirar rendimentos quando, parcialmente, saem dela. Nos tempos que correm, onde o Estado assume uma posição de agente económico de dimensão desmesurada, um político é mais um gestor comprador que um vendedor de ideias. E aos compradores, se não lhe pagam adequadamente, alguém lhes pagará.
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Aos milicianos, mercenários e oportunistas, prefiro os profissionais da política. Mas sentir-me-ia mais confortável, enquanto cidadão e contribuinte, se fossem pagos competitivamente. Até porque, sendo melhores, poderiam ser muito menos.

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