Thursday, March 13, 2008

CHEQUES

Os reboliços causados pelas reformas na educação motivaram os ultraliberais a voltar à carga com o cheque-ensino. A ideia é aliciante para muita gente: com o cheque ensino acabavam-se as manifestações por causa das avaliações, das promoções, das direcções das escolas; acabava-se também com o ensino público em Portugal.
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A experiência observada no ensino superior privado, contudo, leva a crer que, dentro de pouco tempo, grande parte dos proprietários das escolas secundárias privadas andaria com processos judiciais às costas por práticas ilícitas ou moralmente condenáveis, a qualidade do ensino degradar-se-ia ainda mais, o abandono escolar aumentaria, a desigualdade de oportunidades de educação seria ainda maior.
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A escola pública, contudo, não pode comportar-se como se não houvesse hipótese de concorrência, como se pudesse viver irreversívelmente de um cheque em branco. Porque, nesse caso, irremediavelmente, seria paulatinamente ultrapassada por uma concorrência obrigada a fazer pela vida e, portanto, a impor-se.
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Não é com cheques que se resolverão os problemas da educação em Portugal.

3 comments:

jcd said...

Acho que não percebeu muito bem a diferença entre cheque ensino e público gratuito vs privado pago, mas enfim, sempre que se fala sobre incentivos, concorrência, liberdade e outros conceitos semelhantes há uma barreira de preconceito que, nalguns casos, parece ser inultrapassável.

Mas como na realidade, nada poderá ser pior que o estado a que chegou a eescola pública eduquêsa em Portugal, medidam pelo conhecimento que os nossos filhos demonstram nas comparações com as crianças de outros países (particularmente desses, em que há cheque ensino), o que é que temos a perder?

jcd said...

Acho que não percebeu muito bem a diferença entre cheque ensino e público gratuito vs privado pago, mas enfim, sempre que se fala sobre incentivos, concorrência, liberdade e outros conceitos semelhantes há uma barreira de preconceito que, nalguns casos, parece ser inultrapassável.

Mas como na realidade, nada poderá ser pior que o estado a que chegou a eescola pública eduquêsa em Portugal, medida pelo conhecimento que os nossos filhos demonstram nas comparações com as crianças de outros países (particularmente desses, em que há cheque ensino), o que é que temos a perder?

Rui Fonseca said...

Suponho perceber bem a diferença.

E é por isso que me parece que o cheque ensino não resolveria a questão da qualidade do ensino secundário em Portugal. Além de que me parece difícil de adoptar sem aumentar ainda mais as desigualdades de oportunidades. Nos grandes centros urbanos, onde já existe oferta de ensino privado, o cheque ensino provocaria, certamente, o encerramento de algumas escolas públicas por redução do número crítico de alunos. Nos meios mais demograficamente dispersos, onde a
rentabilidade do negócio não seria satisfatória, o ensino público perduraria sem alternativa e o cheque ensino seria aproveitado apenas por uma parte da população, provavelmente aquela mais favorecida economicamente.

Por outro lado, o fracasso quase total do ensino universitário privado em Portugal não auguraria nada de bom para um sistema de ensino secundário assegurado em grande parte pelo sector privado.

É por tudo isto que a avaliação da qualidade da escola pública, incluindo a avaliação de professores, é fundamental para a continuidade do ensino secundário público.

Salvo melhor opinião.