"A educação e os discursos com barbas
Não imaginam o quanto se torna penoso ouvir alguns discursos sobre o "actual" estado da educação em Portugal. Alguns deles chegam a raiar a ignorância compulsiva e uma incrível falta de imaginação, até para melhor disfarçar essa ignorância..."
Para ilustrar o seu desencanto com o barulho do coro à volta, David Justino tirou da estante Oliveira Martins para mostrar que os portugueses andam a dizer o mesmo há mais de um século, pelo menos. A propósito deste e doutros temas poderia David Justino ter sacado de outros autores, de Eça, por exemplo; se tirasse "Le Portugal à vol d´oiseau", de Maria Rattazi, tiraria de Portugal um retrato a sépia de corpo inteiro. Não me parece, contudo, que se ganhe muito com isso. Se os problemas subsistem não se resolvem revolvendo-lhe a antiguidade mas atacando-lhes a filoxera na raiz.
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Por mim, já o tenho aqui referido, o problema da (má) educação em Portugal decorre em grande parte da falta de exigência que caracteriza o relacionamento dentro da sociedade portuguesa.
Queixam-se as universidades que os alunos lhes chegam do secundário impreparados mas nenhuma, até agora, decidiu adoptar (ou propor ao Ministério a adopção) de exames de aptidão que avaliassem os candidatos. Como dependem do orçamento, e este se alarga com o número de alunos, a quantidade sobrepõe-se à qualidade.
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Queixam-se os empregadores que não têm os candidatos com as competências que requerem mas são raros os que os submetem a provas de avaliação. Se um empregador decide mais em função do conhecimento pessoal e, frequentemente de um empenho, de uma cunha, que motivação tem o candidato para aprender aritmética e álgebra?
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Se os professores são admitidos sem provas de acesso rigorosas, que qualidade pode esperar-se dos professores admitidos? Que motivação os pode levar a prepararem-se melhor? O brio profissional? O tempo acaba sempre por desgastar o brio das coisas se não houver mais nenhum motivo que puxe por ele.
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Se o Estado não promove provas de concursos de admissão e promoção que motivação têm os candidatos para se apresentarem bem preparados?
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É pela exigência que pode mudar-se a educação. Porque a motivação numa sociedade de frouxos costumes é caminhar pela via do facilitismo que nos torna moles os membros e o carácter.
Todas as insuficiências, entorses e lamúrias com barbas decorrem dessa falta de exigência generalizada.
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