Friday, March 28, 2008

ATÉ AO TUTANO

Queixam-se muitas pessoas da falta de qualidade dos media e, sobretudo, dos programas televisivos em Portugal.
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É inquestionável, contudo, que maioria dos telespectadores tem uma opinião diferente. Se assim não fosse, certamente que os responsáveis pelas emissões e pelos resultados em termos de audiências, com reflexos nos resultados das empresas, há muito que teriam alterado o perfil dos conteúdos que produzem ou adquirem, ou teriam sido substituidos por quem fosse capaz de o fazer.
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Os programas que nos entram em casa, se lhes abrimos a porta, são aqueles que encontram espectadores que os preferem em número suficiente para justificar economicamente a sua emissão. É esta lógica de mercado que justifica a transmissão de programas com conteúdos contrários à decência avaliada por padrões culturais acima da média.
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Se um canal televisivo aposta na exploração até à exaustão de um caso mediático, por ser polémico ou dramático, é porque a emissão repetida desse facto é consumida por um número de espectadores muito superior aquele que a repudia. Postos perante esta preferência da maioria pela polémica ou pelo dramatismo servido em doses maciças, os outros canais não têm, comercialmente, alternativa, senão adoptar o mesmo padrão, observando-se então uma injecção conjunta e repetida do facto que só termina com o enjoo colectivo. Enjoo que acaba por rejeitar abordagens posteriores do assunto. Aconteceu assim com o caso Casa Pia, por exemplo, com os incêndios florestais, com a queda da ponte de Entre-os-Rios, tem acontecido nos últimos dias com a indisciplina nas escolas.
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Um pouco de decência recomendaria que a exploração de alguns assuntos, com inegável importância para a comunidade, fosse mais moderada quando explodem e não caíssem no esquecimento após a sobredosagem nessa fase. Porque seria importante saber-se por que emperra a justiça, que medidas estão a ser tomadas agora para prevenir os fogos florestais no Verão.
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Quanto ao caso da escola secundária do Porto o que nele foi original foi o Youtube, e só a gula das massas pelo escândalo explica a sua administração em doses múltiplas e maciças.
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É possível inverter esta preversidade de que se alimentam os media e as massas?
É possível mas não é provável. O que, também por este motivo, coloca a questão do interesse da continuidade de canais pertencentes ao Estado, pelos vistos também eles coagidos a seguir o rebanho.

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