Não sei se o que de mais importante se passou ontem na AR foi transmitido pelas televisões porque o que nos entrou pela casa dentro via televisiva foi pouco interessante ainda que, lamentavelmente, talvez seja exemplar dos usos e costumes da casa da democracia portuguesa: o governo apresentou duas medidas na área da saúde (termo da gestão privada do Amadora-Sintra e redução de 50% nas taxas moderadoras para beneficiários da Segurança Social com mais de 65 anos). Como 80% dos beneficiários com mais de 65 anos já estão isentos, a bondade governamental tem um impacto social muito reduzido, aliás expresso nos custos calculados pelo governo: 5 milhões de euros. O líder da bancada do PSD aproveitou a oportunidade para desancar de forma pelo menos tão excessiva quanto o excesso que o governo quis dar a uma medida de reduzidíssimo impacto.
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Outro momento de guerrilha política sem elevação ocorreu quando o líder do PP entendeu confrontar o primeiro-ministro com uma acção da ASAE que proibiu a produção doméstica para comercialização de amêndoas em Portalegre, que ocupava duas pessoas, naquele tom magistral e de peito cheio habitual em PP.
Miguel Frasquilho, deputado pelo PSD entendeu que a projecção mediática dada à questão da redução das taxas merecia ser estendida à blogosfera e aborda-a no Quarta República :
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"Ora, o leitor sabe a que percentagem da despesa no Serviço Nacional de Saúde, na despesa pública e no PIB corresponde 5 milhões de euros? Não? Pois aqui vai: corresponde a 0.07%, a 0.006% e a 0.003%!!! Ui, mas que grande impacto que esta medida terá no défice, não é?!... E claro, só porque o défice foi reduzido para menos de 3% do PIB é que o anúncio pôde ser feito!...Ouve-se, lê-se, e nem se acredita.E por isso, para evitar comentários adicionais e não utilizar termos mais fortes (mas talvez mais adequados…) na caracterização desta encenação, convido o leitor do Quarta República a fazê-lo…"
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Ainda que o desafio de Miguel Frasquilho aos seus leitores seja de mérito ético discutível, comentei:
(...) o excesso do governo colocado na promoção de uma medida com impacto social reduzido é equivalente ao excesso com que o líder da bancada do PSD contestou a medida. Equivalente ainda à cena das amêndoas do presidente do PP. Porque ninguém saiu das guerras do alecrim e propôs a discussão de causas mais ambiciosas.Não, caro deputado Miguel Frasquilho, não se engane. Não é por este andar que os portugueses poderão ver no PSD uma alternativa de governo. Enquanto se entretiver ou nos quiser entreter com discussões de trocos.
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