Monday, March 03, 2008

PÃO OU PÃES

"Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães ... o sertão está em toda a parte. " João Guimarães Rosa - Grande Serão : Veredas
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Como o preço do trigo aumentou mais de cem por cento, o preço do pão terá de aumentar cinquenta por cento para aindústria não ir à falência, anunciou o presidente da associação dos industriais de panificação.
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O Ministro da Agricultura, que não tem trigo para reabastecer o mercado quanto baste e baixar os preços do cereal, diz que a participação do custo do trigo no preço do pão não vai além de cinco por cento e, daí, que um aumento de cinquenta por cento não tem o mínimo fundamento.
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Retorquiu o presidente dos padeiros que o ministro é ignorante, o peso do custo do trigo é de vinte e cinco por cento no preço final mas, atenção, nem só de trigo se faz o pão e as outras coisas aumentaram bastante. De modo que não podem fazer por menos.
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A questão da escassez de cereais este ano é extremamente preocupante, sobretudo para os países mais pobres. Em Portugal, a solução do problema, que é grave, não passa pela subsidiação do preço do trigo, qualquer que seja a sua influência no custo final do produto. A autoridade de vigilância das leis da concorrência deve analisar se a proclamação do presidente da corporação dos industriais é ilegal e, se apartir dela ou de acordos entre os industriais, os aumentos resultam de concertação, que a existir, será sempre ilegal. E, se for o caso, entregar o caso aos tribunais.
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O subsídio nunca seria uma boa solução: porque distorceria as leis do mercado, com todas as implicações perversas que daí resultariam, beneficiaria indistintamente os mais e os menos favorecidos, e os industriais.
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As políticas sociais devem intervir do lado dos rendimentos e não das despesas. O caso do preço do pão é apenas um entre muitos.

2 comments:

António said...

Há um problema com o negócio do pão.
Há uns anitos, montar uma padaria era o mesmo que montar um café e pouco mais. Coisa simples e barata.
Hoje, as exigências técnicas de salubridade, de higiene constante quer ao nivel das instalações de fabrico, de venda e com o pessoal quer da produção, quer do balcão, são tantas e nunca estando ao nível exigido, que se torna pouco ou nada rentável manter ou iniciar um negócio destes com os preços de venda que estão em vigor. Nem falo nos preços das matérias primas, dos combustíveis, impostos e outras alcavalas.
Ou se tem uma larga fatia de mercado e é sempre a aviar, ou então, com tempos de paragem nas vendas, foi chão que deu uvas.
Pessoalmente acho uma exorbitância o preço que o pão atingiu, mas confesso que de custos de fabrico e de exploração nada sei.
O que sei é que, neste momento, em Portugal, se consome muito pão. Isso não é bom para a saúde, devendo as pessoas diversificar mais a sua alimentação, preferindo os bolos, os bifes, o peixe e o marisco.

Rui Fonseca said...

Parece-me bem : menos pão e mais camarão!

E não haverá falta de trigo, então.