"A dívida não é solução" é o título do artigo de Thomaz I. Paley publicado no caderno de Economia do Público de anteontem. O articulista debruça-se sobre a realidade económica actual norte-americana mas a sua perspectiva ajusta-se bem a um olhar sobre a realidade portuguesa nos dias que correm:
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(...) Assim, não basta fazer face à crise do dia. É preciso gizar um plano de estabilidade a longo prazo. E, para isso, é necessário rever o paradigma que vigorou nestes últimos 25 anos. Ou seja, é necessário pôr fim aos défices comerciais - que apenas têm minado o poder de compra e o emprego - e repor a ligação que sempre existiu entre os salários e a produtividade. Resumindo, é o rendimento salarial e não a dívida e a inflação dos preços dos activos que deve alimentar o crescimento da procura."
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A dívida não é solução, pois não, se fosse todos os problemas económicos deste mundo estariam resolvidos. Mas as conclusões de Paley se são claras quanto aos objectivos não são indiciadoras sequer dos meios para os atingir.
"A perda de postos de trabalho (1,8 milhões) na indústria transformadora, a inflação dos preços dos activos, o aumento dos rácios dívida/rendimento e o desfasamento entre os salários e o crescimento da produtividade" resultam, por um lado, do aumento da produtividade (que significa menos trabalhadores para a mesma produção), da globalização (que transfere as produções para os países de salários mais baixos), do crescimento da dívida (por aplicação dos superávites dos países exportadores em activos nos países importadores).
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"Mesmo que a Fed e o Tesouro norte-americano consigam impedir a recessão, a pergunta que se coloca é: como irá fomentar o crescimento futuro?"
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Esta é também a questão que se coloca às economias do sul da Europa e à portuguesa muito em particular pela debilidade estrutural que o seu potencial apresenta. Há quem clame pela negociação de medidas proteccionistas (à espera de quê?), há quem se proponha subsidiar as indústrias em crise reduzindo, concomitantemente, os subsídios de desemprego, há quem, mais radicalmente, proponha a desglobalização. São caminhos: Incertos e perigosos. É preciso descortinar melhores.
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