Há pouco mais de um ano reflectíamos aqui
acerca da dimensão da economia perversa e nos prováveis efeitos sobre a economia global que a sua extinção ou redução significativa poderia induzir.
acerca da dimensão da economia perversa e nos prováveis efeitos sobre a economia global que a sua extinção ou redução significativa poderia induzir.
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Ontem o Público publicava um artigo (Produção de ópio no Afeganistão atinge recorde) de onde se retiraram as seguintes conclusões de um relatório do Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) divulgado esta semana em Viena:
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- A produção de ópio no Afeganistão aumentou o ano passado 64% e está a atingir níveis-recorde;
- O país voltou a ser, desde o início da guerra conduzida nos últimos anos pelos Estados Unidos, a principal fonte mundial do ópio e da heroína dele derivada, voltando aos níveis que tinha na década de 1990, quando representava 70% do fornecimento global destes produtos;
- A CIA considera que 1/3 do PNB afegão vem da exportação do ópio;
- A papoila dormideira é agora uma constante nas 32 províncias do Afeganistão, sendo cultivada em 165 mil hectares e dando origem a 6100 toneladas de ópio, que rendem anualmente o equivalente a 18.800 milhões de euros;
- Meio milhão de pessoas participa no tráfico do produto afegão, que segue especialmente para o Paquistão, o Irão e a Europa Ocidental e leva a ONU a temer que se esteja ali a gerar um Estado de traficantes;
- António Maria Costa, italiano, subsecretário-geral das Nações Unidas propôs, esta semana, um plano de acção para melhorar a segurança fronteiriça, que inclui patrulhas paralelas e conjuntas e exercícios conjuntos de treino por parte das forças do Afeganistão, do Paquistão e do Irão.
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Entretanto, o Economist desta semana publica um relatório, com conclusões contraditórias, acerca dos malefícios e benefícios dos "offshore" financeiros.
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Por cá exaltam-se os ânimos a propósito de extinções de maternidades, serviços hospitalares de urgências e esquadras da polícia.
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O que é que há de comum em tudo isto?
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Se, de repente, acabasse a droga abalava-se a economia mundial. Até que ponto? Ninguém sabe e parece que ninguém quer saber. A extinção da produção de ópio afegão seria mais eficaz se fossem destruídos os campos de cultivo. Como isso implicaria destruir cerca de 1/3 da economia daquele país, as Nações Unidas ( e as desunidas também) preferem jogar ao faz-de-conta; Entretanto, o jogo do gato e do rato no tráfico entre as fronteiras do Afeganistão e a venda a retalho nos centros consumidores, garante emprego directo e indirecto. Indirecto, por exemplo, na construção civil. A construção civil é um dos maiores sectores receptores e branqueadores de dinheiro sujo. Mas a construção civil, em Portugal, concorre com cerca de 50% de todo o investimento realizado;
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A perseguição dos traficantes pelos caminhos do dinheiro encontraria, por outro lado, gente nos mesmos caminhos que não quer ser incomodada;
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A racionalização (entenda-se, o aumento da eficiência e da produtividade ) dos serviços públicos implica a redução de milhares de funcionários, polícias incluídos: Portugal tem um dos mais elevados rácios de polícias por cada 100 mil habitantes; tem dos mais elevados rácios de tribunais, juízes, funcionários judiciais, por 100 mil habitantes... Se toda essa gente fosse dispensada em nome da racionalidade o que é que aconteceria à economia?
Acerca da discussão de ontem na AR, escreve o Público de hoje:
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"Se o anúncio da reforma da administração interna pelo primeiro-ministro foi relativamente pacífico, o mesmo não se poderá dizer do debate paralelo ocorrido sobre o desemprego.
O líder do principal partido da oposição, (... ) , cedo fez resvalar a discussão para o "ponto mais negro" da governação(... ). "Isto é um desastre social" (...) , a taxa de desemprego subiu par 8,2%, em Dezembro de 2006, "a mais alta dos últimos 20 anos"
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A teoria que pressupõe comportarem-se os agentes económicos de forma racional nas suas decisões tem os seus truques. A racionalidade das decisões políticas é ainda mais intrincada.
Ou a razão já não é o que era.
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