Monday, March 12, 2007

AS VIDAS DOS OUTROS

- Bom dia!
- Mau dia..., esta chuva nunca mais pára!
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Este é um diálogo urbano em dia de chuva. Para o citadino, que confunde um voto, ou um desejo, com uma constatação meteorológica, a chuva ou é uma imponderabilidade divina ou falta de pontaria do divino responsável pela meteorologia. Para quem nasceu e vive na cidade, um dia de chuva é um dia de neura. Se a chuva acontece em fim-de-semana, e lhe estraga a ida à praia, a fé em Deus vacila, quando existe. Um fim-de-semana, quanto mais quente melhor. O aquecimento global, que tanto parece preocupar umas quantas almas simples e outras simplórias, é uma novidade que só lhe pode trazer vantagens.
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- Bom dia!
- Bom dia! Que rica chuva! Já estava tudo a secar...desta vez veio a tempo!
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Este á um diálogo rural de quem sobrevive ainda a velar pelo crescimento dos nabos, que pedem chuva a tempo e horas, mesmo que seja ao Sábado, que é quando o Sol promete aperecer sempre. Chuva no nabal e sol na eira, pedem os agricultores, mas o tempo está cada vez mais desnorteado e de nada vale o sol na eira se não cai chuva no nabal. Para quem nasceu a ver crescer a natureza, a chuva é símbolo de fecundação e fartura de frutos; sem chuva a terra é estéril e o fruto é a fome.
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Problema deles, pensam os citadinos.
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("As Vidas dos Outros" é também o título de um filme que confronta aqueles que se denominam libertários, mas fazem do elogio do egoísmo o seu padrão de conduta, com os caminhos para onde conduz o objectivismo de um dos seus autores de referência: Ayn Rand. Existe, objectivamente, alguma diferença entre o fascismo, o nazismo, o "socialismo real" e o "liberalismo extremo?" E, já agora, esta história dos nabos? O "socialismo real" nasceu embalado pela generosidade do altruísmo e implodiu na destruição por alguns das vidas dos outros)

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