Sunday, March 11, 2007

ATLÂNTICO II

O artigo "Global Warming: Who Loses - and Who Wins?" de Gregg Easterbrook, autor de "The Progress Paradox", publicado na revista norte-americana The Atlantic , para além de caracterizar algumas das alterações dramáticas que o aquecimento global provocará no meio ambiente, ensaia um balanço de ganhos e perdas decorrente delas.
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Trata-se de uma abordagem em certa medida original, e digo em certa medida porque ela decorre bastante do senso comum, sendo as suas conclusões já constatáveis à nossa volta ainda que os efeitos na sua expressão extrema se venham a verificar, se entretanto não forem contrariados, só dentro de várias décadas:as alterações ambientais decorrentes do aquecimento global favorecerão, regra geral, os povos localizados no hemisfério Norte, que assim passarão a dispor de clima mais ameno, propício ao crescimento de todas as actividades económicas, com prejuízo dos que habitam o hemisfério Sul que verão as suas condições vivenciais arrasadas por climas ainda mais tórridos em solos mais estéreis. O aquecimento global agravará, portanto, as desigualdades que já hoje se observam entre o Norte e o Sul. Países como o Canadá passarão a dispor de mais terrenos hospitaleiros, a Rússia que só à sua conta arrecadará metade dos ganhos, terá na Sibéria uma oportunidade de crescimento que hoje é cerceado pelas condições climatéricas adversas.
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O choque das civilizações, onde alguns vêm um choque religioso, mas que é sobretudo sintoma de uma disputa global pelos recursos naturais disponíveis (e um clima ameno é um deles), acentuar-se-á à medida que as alterações climáticas acentuarem os factores de repulsão no Sul e de atracção no Norte. A corrente de migração humana que já hoje se observa, por exemplo, entre o México e os EUA acelarar-se-á e não será estancável. Idêntica situação se observará entre os dois lados do Mediterrâneo enquanto a Europa, sobretudo a Europa do Sul, não for também ela afectada pela desertificação.
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A tentação dos ganhadores, animados pelas vantagens, para desvalorizar os efeitos negativos do aquecimento global poderá ser uma razão intransponível para a reversão da tendência que hoje se observa e é, porventura, uma explicação (im) plausível para a forma dispicienda como os EUA têm até hoje encarado a questão ambiental uma vez que grande parte dos EUA insere-se na zona de ganhos aparentes. A "verdade inconveniente" de Al Gore é, deste modo, um marco muito significativo relativamente ao qual os norte-americanos se irão posicionar no futuro quanto a esta matéria. A não ser que o continuem a ignorar.

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