Sunday, March 22, 2020

PARA ONDE FOSTE PRIMAVERA?


20 de Março, começa hoje a primavera.

Ouviste cantar a poupa?
Não. E, tu?
Também não?
É estranho...
Hum! Ela aparece e desaparece, depois volta.
O mais estranho é que também não vejo os nossos melros. Nem a alvéola azul, que todos os dias nos visita, nem o pisco, nem a toutinegra, nem o rabi ruivo, nem os chapins, nem em voo alto, diário, de ida e regresso, a garça real, nem, quando menos se espera, o gaio.
Devem ter ido dar um giro, voltarão ao fim do dia.
E os pardais? Desapareceram os pardais?
Pardais é bicho que nunca desaparece.
Dizem os ecologistas que até os pardais estão a desaparecer.

21 de Março

Estás a ouvir a poupa?
Estou. A poupa voltou.
Voltou e já a vi hoje aqui a picar no jardim.
Mas não vejo os melros nem pardais. O que mais me intriga é que não se veja um único pardal, para amostra. Nem o gato que, sorrateiramente, costuma vir até cá tentar deitar unha em petisco alado distraído
É do frio e do vento. Arrefeceu o tempo, estão escondidos.

Hoje, 22 de Março

Ainda hoje não ouvi a poupa.
Nem os melros, nem os pardais.
E o dia está lindo. Há sol, o céu azul, o castanheiro mostra vigorosos ramos de folhas viçosas, os callistemon thomasi estão exuberante de flores, os outros mais atrasados, nas gravíleas vêem-se todos os dias mais flores, as felícias estão lindas, as rosas sevilhanas estão prenhes de botões e um deles partiu hoje o cálice, a estrelícia mostra ao sol, vaidosa, três exuberantes cristas, os malmequeres vestem-se ufanos de branco rosa, os leptospermum voltaram a ser fantásticas bolas de florinhas rosa, que perduram assim meses sem que o vento ou frio as desanime. Até no jacarandá, que plantámos o ano passado, já estão a apontar rebentos. O ginkgo, que o Miguel plantou há quinze anos, há muito que cresceu mais alto que o plantador, que também cresceu bem, é o gigante da família. Os loureiros estão vigorosos, o pinheiro plantado pela Rita anda em competição de crescimento com o loureiro que ela também plantou.
O loureiro maior, plantado em dia de celebração conjugal, abrigo de melros e pardais, quando precisam, é agora um garboso cone com não menos de uma dúzia de metros de altura.
Tudo tão bonito, mas tudo tão silencioso. Com um dia tão bonito por que razão não comparecem os melros, por que não recreiam os nossos olhos os pardais, por que não voltou a poupa, porque nem sequer a ouvimos cantar?
E as abelhas? Já reparaste que não se vêem abelhas? Ainda há dias saltavam milhares delas nos muitos milhares de florinhas dos leptospermum, das gravíleas, dos callistemon? Por que razão fugiram daqui, agora quando chegou a primavera?

Amanhã voltarão todos: a poupa, os melros, os verdilhões, os pardais, de vez em quando o gaio, a alvéola, a toutinegra, os chapins, o pisco, o rabi ruivo, a garça real, as garças brancas a passear do outro lado da vedação, as gaivotas a dar sinal de temporal, o bando de estorninhos a chegar e a por-se a andar, todos!

Notícia de última hora: cerca do meio dia, foi avistada a alvéola, também o gato já foi visto a rondar.



O tempo do azevinho (à frente na foto) pintar-se de bolinhas vermelhas aconteceu por alturas do Natal. Agora é o tempo dos vizinhos, atrás, os leptospermum se revestirem de flores rosa.

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