Quando a coronela entrou em
casa, faltava pouco para o meio dia, tinha saído para o giro da manhã, apanhar
ar, mexer as pernas, palrar com as amigas, quase todas casadas com oficiais do
quartel onde o seu esposo, o coronel, era o comandante, por ali toda a gente a
conhecia pela coronela ainda que ninguém a tratasse senão pelo próprio nome,
deparou-se com o coronel sentado no sofá, esbragalado, a limpar-se a um
guardanapo encharcado do suor que, sem parar, lhe escorria em bica na cara e no
pescoço. O que é que te aconteceu homem?, perguntou repetidamente a coronela, e
o coronel, nada, mudo continuava a enxugar o suor, fala, desembucha, sentes-te
mal? queres que chame o médico, que te leve ao hospital? não falas, não
consegues falar, saíste e voltaste porquê?, fala, homem, pelo amor de Deus! O
coronel não falava nem parava de enxugar-se ao mesmo tempo que atirava à
coronela olhares de fera ferida.
Desesperadamente movida
pelo mutismo do coronel, chegou-se a ele para repetir vezes sem conta,
abanando-o, as perguntas que tinha feito sem obter resposta. O corpo do coronel
deixou-se abanar sem resistência, um saco meio cheio que nem tomba nem se
endireita. Tanta ausência de reacção impeliu a coronela para um gesto que, nem
nos seus mais estrambólicos sonhos, alguma vez pensara praticar na vida:
cansada de tanto abanar sem resultado, perdeu a lucidez e o respeito pelo
marido e pespegou duas estaladas, uma em cada lado, nas bochechas mais rosadas
e encharcadas que nunca do coronel.
Chegados a este ponto, o
coronel falou, mas falou a chorar: Tinha sido demitido pelo seu general chefe
maior do exército, e porquê?, porque desaparecera o quartel, o seu quartel,
para parte incerta.
- Desapareceu o quê?
- Isso mesmo que tu
ouviste, o quartel, o meu quartel, o nosso quartel.
O homem está louco, pensou
a coronela porque não podia pensar outra coisa, encontrando-se ela em perfeito
juízo. Quartel não é coisa que desapareça, podem desaparecer coisas de um
quartel para qualquer parte, quartel é coisa que não pode desaparecer para parte
incerta, pensava com toda a lógica cartesiana que conseguia juntar a coronela,
e o coronel, a ouvi-la com olhos ainda mais mal mortos que mostravam o abismo
que se abrira na sua cabeça castrense entre uma realidade que não entendia e o
raciocínio irrebatível da coronela.
Depois, mais impulsionada
pelo arrependimento do gesto irreflectido que pelo amor já desgastado pelos
anos de vida em comum, a coronela abraçou o marido e juntou ao suor que o
guardanapo não estancava lágrimas incontidas durante largo tempo. O coronel,
era evidente, para ela naquele momento, passara-se. Um qualquer acidente
vascular, ou, sabia-se lá, talvez uma emergência súbita de alzheimer, tinha-lhe
dado volta ao miolo, o coronel saíra bem disposto de casa, e, de um momento
para o outro não sabia em que terra estava, alguém conhecido o trouxera para
casa, e na mente do comandante o seu quartel desaparecera de onde, de modo
algum, podia desaparecer.
Agora não valia a pena
perder tempo a tentar reparar o mecanismo estropiado com argumentos, o mais
sensato era levá-lo ao hospital antes que o derrame cerebral se agravasse e o
homem lhe ficasse em casa sem préstimo durante, possivelmente, muitos anos. Ele
ainda era novo, cinquenta e cinco feitos na semana passada, podia recuperar,
anda daí coronel, vem mostrar-me o espaço de onde roubaram o nosso quartel,
dizia ela ao mesmo tempo que o incentivava a levantar-se com a intenção de o
levar para o hospital. Levantou-se o coronel a custo, enorme era o peso do seu
desespero em cima do seu corpo bem nutrido, o guardanapo encharcado já lhe
deixava mais suor no rosto que retirava dele. Na rua, adiantou-se a coronela a
tirar da mala a chave do seu carro, não reparou o coronel na intenção da
mulher, e caminhou para a sua viatura estacionada no outro lado da rua.
- Boavida! Vamos no meu
carro.
O coronel encolheu os
ombros conformado com a ordem da mulher, aquele era um dia de novidades,
tinham-lhe roubado o quartel, o quartel todo, durante a noite, tinha sido
demitido pelo seu chefe maior, a mulher dera-lhe duas bofetadas, agora tinha de
seguir na viatura dela para o local onde até ao dia anterior houvera um
quartel, o seu.
Guiou a coronela o carro na
direcção do hospital que ficava no sentido oposto que conduzia ao quartel, e o
coronel perguntou-lhe se ela sabia onde ficava o quartel, porque perguntas
Boavida? ora por que pergunto, porque vais em sentido contrário, ou dás
meia volta ou nunca mais chegas ao sítio do quartel roubado. Percebeu, então, a
coronela que o coronel, no fim de contas, tinha os pontos cardeais no sítio, se
calhar tinham mesmo feito desaparecer o quartel, há mágicos que até fazem
desaparecer aviões, por alguns instantes, deve ter acontecido isso, o general
chefe maior precipitou-se, certamente, os generais não sabem de ilusionismo, vou
dar meia volta ali adiante, na próxima rotunda, as rotundas foram a grande
invenção do século passado, quando chegarmos já ao quartel foi retirada a
cortina mágica, o Boavida será reintegrado, tudo está bem quando acaba
bem.
Mas não estava.
Foi difícil chegar ao local
do quartel roubado e impossível conseguir ver aquilo a que os repórteres já
designavam por ground zero, à volta do qual se tinha formado um
cordão de gente vinda de muitos lados, o caso tinha-se tornado notícia mundial,
expandira-se globalmente através das redes sociais já havia por ali
muitas explicações para o fenómeno, mas o fenómeno era inexplicável.
- O que é que aconteceu por
aqui?, perguntava um sujeito baixote, que só via gente à sua frente, a um tipo
alto que via por cima das cabeças dos outros.
- Parece que durante esta
noite desapareceu daqui o quartel.
- E o que é que se vê?
- Só um largo.
- E que tem o largo?
- Nada.
- Não ficou nenhum buraco?
- Não. Não se vê buraco
nenhum.
Coincidia a informação do
gigante observador local com as imagens, sempre as mesmas, pescadas em
diferentes ângulos, que todas as estações de televisão transmitiam há várias
horas, apenas interrompidas pelos compromissos comerciais.
- Está um calor ... sabe
onde se pode beber aqui uma cerveja? perguntava um a outro, que por
insuficiência de altura também não via senão gente à sua frente.
- Não há cerveja, nem água,
nem nada...ouvi dizer que está tudo esgotado nesta cidade.
- O senhor é daqui?
- Oh, não ... ia a passar
na autoestrada, ouvi as notícias e dei um pulo até cá.
- Ainda não encontrei
ninguém que seja de cá, informou um terceiro que ouvira a conversa dos dois,
... com este calor devem estar em casa, à sombra, regalados a beber o que cá
fora não há porque se esgotou, a verem as imagens do largo, sem buraco, transmitidas
pelas televisões ... chamem-lhes tolos!
Se o quartel tinha sido
importante para a cidade, aquele milagre poderia vir a tornar-se local de
culto, peregrinações, comércio, turismo, há certos males que vêm por bem. Assim
pensou a coronela, uma vez confirmado o inimaginável roubo do quartel do seu
Boavida, ocorreu-lhe telefonar à esposa do general chefe maior, sua amiga desde
os tempos em que tinham frequentado o mesmo colégio, lembrando-lhe que, só
podendo ter desaparecido o quartel por milagre, a demissão do seu Boavida era
indiscutivelmente injusta e tal injustiça só remediável com a reintegração do
coronel demitido. Nada mais óbvio, e o coronel Boavida foi reintegrado no dia
seguinte, ficando a aguardar colocação uma vez que o seu quartel havia, milagrosamente,
desaparecido.
Não teve que aguardar
durante muito tempo porque, passadas não mais que quatro semanas, tão
milagrosamente quanto havia desaparecido, apareceu exactamente, milagrosamente
no mesmo local, o quartel do coronel comandante Boavida, com ligeiras
alterações, veio a saber-se mais tarde. E a tranquilidade voltou à cidade,
perdida a oportunidade de uma promoção que o milagre poderia ter potenciado,
está visto, não se pode ter tudo.
Quem não entendeu assim foi
a oposição que, invocando as mais ingentes razões de honorabilidade do Estado
exigiu a imediata demissão do general chefe maior do exército, do ministro da
defesa e do chefe do governo, sem prejuízo do apuramento das responsabilidades
pelos, a todos os títulos, intoleráveis acontecimentos, uma exigência
imponderada porque poderia vir a desencadear uma crise de consequências não
calculadas.
Argumentava a oposição,
geralmente temente a Deus, que só papalvos ou coniventes na rábula política
arquitectada pelo governo poderiam querer fazer acreditar que é possível, a não
ser por artes ilusionistas, fazer desaparecer da noite para o dia
um complexo imobiliário de grandes dimensões e voltar a reinstalá-lo no
mesmo local algum tempo depois e atribuir à burla dignidade miraculosa, só
possível por intervenção divina. E os oficiais, sargentos e praças, em serviço
naquela noite no quartel, que lhes acontecera se só o sentinela estava preso
para averiguações e só o comandante do quartel demitido, mas transitoriamente?
Acrescentava que nem o bispo da diocese nem a Santa Sé tinham dado o mínimo
aval à intentona.
Perguntava, em resposta, o
governo, que se reclama laico, como se atrevia a oposição afirmar fosse o que
fosse sobre factos que, provadamente, desconhecia uma vez que não se deslocara
ao local para constatar fenómenos, sem dúvida insólitos, mas que tinham sido
testemunhados por multidões, fotografados e filmados, objecto de reportagens
vistas por muitos milhões de pessoas em todo o mundo. E, a
rematar perguntavam os laicos aos crentes se aqueles dois
transcendentes acontecimentos, do desaparecimento e posterior reaparecimento de
todo um quartel militar, de pedra e cimento, porque já era antigo, não era um
milagre o que era?
Uma burla, respondia a
oposição, que não tinha visitado o local porque não quisera juntar-se ao
rebanho de papalvos que o governo arrebanhara com intuitos de mera propaganda
política.
Para esclarecimento público
do imbróglio que, segundo o governo laico era um milagre e, para a oposição
crente, uma burla, foi aprovada uma proposta de inquirição parlamentar aos
protagonistas visíveis do enredo, em paralelo com a investigação dos invisíveis
a cargo da Polícia de Investigação Criminal.
Depôs perante a comissão
parlamentar, em primeiro lugar, o ministro da Defesa, tendo declarado desconhecer
em absoluto o que se tinha passado, corroborando a tese do governo do duplo
milagre no quartel comandado pelo coronel Boavida. Acrescentou que, tendo
ouvido o general maior do exército sobre os inexplicáveis acontecimentos, o
general declarou saber tanto como ele, o ministro, isto é, nada. Aliás, nem o
ministro da defesa nem o general maior do exército se tinham deslocado ao local
onde, um quartel que antes houvera voltara a aparecer a haver. Que iriam eles
lá fazer?
Pois, muito provavelmente,
ripostavam os inquiridores, crentes, confirmar o que muitos afirmavam, o
quartel nunca aparecera nem desaparecera, o mal arquitectado milagre não teria
sido mais que uma burla anedótica forjada pelos laicos (lacaios, ouviu-se em
aparte discreto) do governo. Mas então, perguntava o ministro, como explicavam
os crentes aos laicos a presença no local de milhares de mirones, e, entre
eles, centenas de jornalistas, fotógrafos, da imprensa, rádio e televisão do
mundo inteiro se os fenómenos observados no espaço de um mês não fossem
inexplicáveis e, portanto, miraculosos?
Ripostou a oposição que a
seu tempo a polícia de investigação criminal desvendaria, porque não lhe
faltariam provas, aquilo que, à primeira vista, parecia incompreensível. Mas
podiam desde já antecipar-se algumas pistas susceptíveis de conduzirem a
respostas para algumas dúvidas só aparentemente muito pertinentes. Por exemplo,
o facto de existirem na cidade duas praças com geometrias e dimensões muito
semelhantes separadas apenas por um quarteirão de edifícios antigos. Numa
delas, foi construído há muitos anos o quartel e na outra realiza-se desde os
tempos da idade média a feira semanal local. Ora, não custaria admitir que os
visitantes, simples curiosos ou jornalistas, teriam sido conduzidos para o
espaço da feira, onde não havia quartel, e encerrado o acesso entre as duas
praças.
Ouvindo isto, mostrou-se o
ministro muito indignado considerando que a oposição acabava de ofender
gravemente as entidades militares e civis além dos honestos residentes locais.
Honestos, sim, sem dúvida, concordou a oposição, mas não tolos para
desperdiçarem a promoção da sua cidade levada a todo mundo pelas redes sociais.
Visivelmente, a actividade económica da cidade e dos seus arredores estava a
observar um dinamismo impensável antes da ocorrência do falso duplo milagre.
Contra atacou o ministro perguntando se toda aquela encenação imaginada da
oposição não significava apenas o receio de concorrência, receio que os
liberais criticam mas normalmente praticam, bem prega frei Tomás ...
Apresentou-se daí a dias
perante a comissão de inquérito, abrilhantado na sua farda e peito medalhado, o
general chefe maior do Exército.
- Senhor general,
agradecemos-lhe a sua presença, começou por afirmar o presidente da comissão de
inquérito.
- Não desconhece,
certamente, o senhor general, as razões pelas quais solicitámos a sua presença
...
- Não!, atalhou bruscamente
o General, não sei porque estou aqui.
Engoliu em seco o
presidente da comissão num compasso de espera para descomprimir a tensão
provocada pela reacção que já se antevia não cooperante do general.
- Senhor general, o caso é
que desapareceu um quartel do exército, ... reapareceu cerca de um mês depois
... O que nos pode dizer o senhor general acerca disto?
- Nada! As senhoras ou os
senhores sabem como é que pode desaparecer um quartel? Eu não sei. Sei
como destruir, não sei como pode ser levado da noite para o dia para parte
incerta e traze-lo de volta, também num abrir e fechar de olhos, pouco tempo
depois.
- No entanto, o senhor
general demitiu o comandante ... mas o sentinela continua preso ..., interveio
um dos deputados membros da comissão de inquérito.
- É do regulamento, é do
RDM. Readmiti o comandante porque o desaparecimento de um quartel é
inexplicável, o sentinela está preso até ao encerramento do processo de
averiguações que corre pelas vias competentes da justiça...e não tenho mais
nada a acrescentar.
- Mas, senhor general chefe
maior, protestam as vias competentes da justiça que estão impedidas pelo
chefe maior do Exército de ouvir uma testemunha, que consideram muito
relevante neste processo...
- O processo está em
segredo de justiça ... militar..., e, possivelmente, canónica. Não tenho mais
nada a acrescentar.
Silêncio na sala,
levantou-se o presidente da comissão, e logo o general, muito obrigado senhor
general, terminada estava audição do general chefe maior do exército.
A encerrar os trabalhos da
comissão de inquérito, foi ouvido o coronel Boavida.
- Senhor presidente da
comissão de inquérito, senhores membros da comissão de inquérito, quero começar
por dizer que me sinto muito honrado pela oportunidade de informar, nesta
casa da democracia, que lavra há algum tempo no seio das forças armadas um latente,
crescente, mal estar. É muito evidente a falta de recursos humanos e materiais
que o desenvolvimento científico e tecnológico impõem na actualidade ao
cumprimento das missões que às forças armadas compete realizar como
insubstituível sustentáculo da nossa democracia. Para ser mais claro, direi
que, salvo raras excepções, as nossas forças armadas se encontram pessimamente
equipadas de meios operacionais, e, consequentemente, muito desfasados os
conhecimentos da grande maioria dos seus meios humanos relativamente às suas
congéneres no âmbito do grupo de nações em que estamos estrategicamente
integrados. Resumidamente, andamos a marcar passo. Há, como atrás referi,
unidades de elite bem preparadas, capazes de responder às mais complicadas
situações bélicas. No entanto, por mais espantoso que vos possa parecer, também
nestes casos, onde os meios operacionais são os mais desenvolvidos e os meios
humanos os mais bem preparados, o grau de insatisfação destas tropas de elite é
preocupante porque as oportunidades de intervenção em teatros de guerra são
raras e a maior parte destes militares podem nunca ser chamados a exercitar a
formação altamente exigente a que dedicaram toda a sua vida profissional, isto
é, muito simplesmente, não há guerras que cheguem para todos ... É esta a
chocante realidade com que se confrontam aqueles que escolheram a honrosa
missão militar. Uns marcam passo por falta de meios, outros por falta de
oportunidades para mostrarem o que valem. Dito isto, estou à vossa disposição
para responder a quaisquer dúvidas, rematou o coronel Boavida.
Avançou um deputado da
oposição com a primeira questão, precedida de um intróito, para dar conta da
sua admiração perante o que chamou a nua franqueza do coronel que exibira
considerações que certamente não seriam, pelo menos em grande parte, subscritos
por muitos dos seus pares.
- Mas, considerações à
parte, o senhor coronel não abordou o tema que o trouxe a esta comissão. Muito
objectivamente, como explica o senhor coronel o desaparecimento e o
aparecimento do quartel onde era e voltou a ser o comandante?
- Senhor deputado, membro
da comissão de inquérito, julgo que não me fiz entender ou não fui
suficientemente preciso e, por esse motivo, admito que as minhas considerações
possam ter sido tidas como forma de fugir à explicação do duplo fenómeno para o
qual ninguém parece encontrar explicação. Sem rodeios lhe digo, também não sei.
Contudo, disse-lhe que há um mal estar nas forças armadas por falta de meios,
de equipamentos e competências, mas também de oportunidades, de guerras,
sobretudo, porque as revoluções são, no nosso hemisfério, politicamente
incorrectas. Sem meios nem oportunidades, o pessoal enfastiado de tanto marcar
passo é levado a inventar movimentos que provem a sua existência, mas posso
estar errado.
- Pode explicar-se melhor
senhor coronel?, pergunta vinda agora do lado do apoio ao governo. Admite o
senhor coronel que o desaparecimento tenha sido obra projectada dentro dos
muros do seu comando?
- Não admito nada. Dei
simplesmente conta aos senhores deputados, membros da comissão de inquérito,
que o pessoal anda insatisfeito. Se daí conseguirem retirar alguma conclusão
que permita desvendar o mistério, milagre ou burla, tanto melhor. Se puder
ajudar, estou disponível. De momento, não sei acrescentar mais nada.
- Se me permite, senhor
coronel, gostaria de perguntar-lhe o que sucedeu ao oficial de dia na noite do
desaparecimento. Sabemos, disse-nos o senhor general chefe maior que o
sentinela está preso por razões de segredo justiça militar e, possivelmente,
até de segredo de justiça canónica. Quanto ao oficial de dia, que informações
obteve dele acerca do roubo do quartel?
- Relevantes, nenhumas.
Conforme comecei por referir aos senhores deputados, membros desta comissão de
inquérito parlamentar, existe um mal estar nas forças armadas por falta de
meios e de oportunidades de intervenção. Assim sendo, não se admirem que o
oficial de dia, destacado na noite em que nos levaram o quartel para parte
incerta, tenha adormecido a gastar horas de solidão no quartel com jogos de
paciência e acordado em casa de uma amiga sua. Não sendo esta informação
certamente relevante para o processo deve a mesma ser considerada confidencial
a bem da continuidade da harmonia conjugal do oficial do dia destacado na noite
das ocorrências.
Reuniu-se a comissão para concertar conclusões do relatório final. Não foi possível obter consenso, os laicos agarraram-se sem cedências à tese dos milagres, os crentes não cederam um milímetro na acusação de burla. Prosseguem as investigações da polícia de investigação criminal.
3 comments:
...e findo o interrogatório o Boavida arrotou e, virando-se para a mulher exclamou com robustez : «E AOS COSTUMES DISSE NADA»
...........Rui. parabéns pela parábola...abç
Para mim só pode ter sido milagre. Bom texto Rui, abraço
Sendo laico não acredito em milagres. Mas acho mais credível que em tempo de lazer com as coisas da guerra, os militares estejam mais afinados com a aprendizagem que as novas tecnologias lhes aportam ao saber, e talvez por aí venham a encontar a justificação para estas peripécias.
... à mê Rui estou feliz por te ter de volta, cordial abraço.
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