Sunday, January 31, 2016

VERDADEIRAMENTE DEFINITIVO PROVISÓRIO

O sr. Primeiro-Ministro vai a Berlim para conversações com a Chanceler alemã mas, dizem do seu gabinete, o encontro "não está relacionado com questões orçamentais porque já se encontrava marcado há mais de quinze dias"... e que "o encontro terá como temáticas as relações bilaterais, questões europeias ligadas às migrações e refugiados e, por sugestão de Costa, o "novo impulso para a convergência", uma iniciativa que partiu do último congresso do Partido Socialista Europeu na Hungria".

Até poderia ser verdade se, entretanto, o desencontro entre o Orçamento Bocejado e as exigências de Bruxelas não se tivesse entreposto, não só mas sobretudo, por causa de umas décimas no défice estrutural, que poderão desencadear o esperado, mas não tão prematuro, confronto entre o primeiro-ministro e os parceiros parlamentares que prometeram, condicionalmente, apoiá-lo. 



Entretanto, o sr. Schäuble, que terá ouvido isto, já fez saber que os acordos são para cumprir.
E o sr. António Costa não vai, certamente, perder a oportunidade para obter alguma condescendência alemã na complicada tarefa de desatar, para já, este nó em que está atado.
Tem alguns trunfos?

Não tem grande coisa. É irrefutável que o aumento da despesa pública decorrente da reposição de salários e pensões pesa estruturalmente sobre o défice. E o argumento de que a Comissão Europeia aceitou como estrutural as reduções executadas pelo governo do sr. Passos Coelho, que no plano interno foram assumidas, e confirmadas pelo Tribunal Constitucional, como transitórias, não desfaz a inevitabilidade do aumento défice estrutural em consequência das reposições. 

Mentiu o sr. Passos Coelho à troica garantindo-lhe que as reduções eram, inevitavelmente, estruturais, ainda que internamente deixasse passar a convicção do carácter da sua transitoriedade? Se mentiu, a troica gostou do que ouviu, e foi conivente com a solução pretendida pelo governo português. E a responsabilidade última ficou do lado de Portugal. Mas há uma saída.

Se o sr. Passos Coelho garantiu à troica que os cortes eram definitivos, resta ao sr. António Costa proceder agora ao contrário confidenciando aos ouvidos germânicos que serão transitórias as reposições que prometeu como definitivas. E, muito provavelmente, acertará em cheio. Terá mentido para dentro mas garantirá a sua sobrevivência política até mais ver. 

2 comments:

Unknown said...

Indo aos factos , presumo que a afirmação que quem colocou no orçamento de 1011 os cortes como definitivos ( e aceite pela UE) foi o PS.Vai sendo repetido como tenha sido o Passos, mas parece-me que erradamente

Rui Fonseca said...

No OE de 2011, talvez.
Mas os maiores cortes de salários e pensões vieram depois.
Salvo erro.