Friday, December 12, 2014

ECONOMIA ABSURDA

Chamam-lhe  o "Yixinou", um comboío chegado esta semana a Madrid, que inaugurou uma linha directa de mercadorias entre China e Espanha. Percorreu 13000 quilómetros em 21 dias, atravessou oito países, transportando 70 contentores de papelaria, artesanato e produtos de consumo doméstico. Metade dos contentores saídos em meados de Novembro da costa leste chinesa foram descarregados em Brest, na Bielorrússia. Está previsto que o "Yixinou" regresse depois do Natal carregado com produtos espanhóis. A Espanha é o sétimo parceiro comercial da China dentro da União Europeia e a China o primeiro parceiro comercial de Espanha fora da UE. As relações comerciais entre os dois países atingiram o ano passado os 20 mil milhões de euros.

É racional o comércio a tão longas distâncias de produtos que não exigem, certamente, mão-de-obra altamente qualificada, investimentos elevados, tecnologias não dominadas em qualquer dos extremos do traçado? Racional, no sentido que decorre de razões económicas prevalecentes num mercado globalizado onde os concorrentes se confrontam armados com os respectivos custos de produção e distribuição, sem dúvida. Mas porquê a Espanha, porquê a Bielorússia, se os produtos chineses transportados no "Yixinou" são papelaria, artesanato e produtos de consumo doméstico, segundo a notícia?

Só encontro uma justificação possível para a apetência dos nossos vizinhos espanhóis (não conheço medidas da nossa) para estes made in China: o preço e o gosto pelo kitsch. É impressionante o stock à venda, lá e cá,  de imagens de "Nossa Senhora", de S. José, presépios, com burrinho, vaquinhas e borreguinhos nas encostas de musgo sintético, com casinhas a fumegar, flores de todas as cores, de Cristo Crucificado, além de outros símbolos de veneração católica, made in China. 
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Já não há artesania em Espanha? Artesanato, há, mas é caro.  "Artesanato industrial", suponho que é assim que se designa a coisa,  pelos vistos, não.
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Mais:  vd. aqui, notícia do El País de que tinha chegado a Madrid o primeiro combóio de mercadorias
Correl. - Una mini España en Shangai


1 comment:

Luciano Machado said...

Bom dia Rui espero tenham feito boa viagem.
Não acho nada de absurdo nesta nova rota da seda. Se de facto é um transporte mais limpo, mais rápido que o marítimo e muito mais barato que o aéreo.
Os chineses estão interessados em vender a qinquilharia, os espanhóis o azeite, o presunto e outros comestíveis. Quanto aos russos, bielorussos, polacos etc não sei, mas nós aqui tão perto até poderemos tirar algum partido.
Pelo tipo de produtos trocados parece-me que em termos de vab podemos ficar a ganhar.
Boas Festas (sem quinquilharia chinesa)