Monday, July 10, 2006

SERIA MILAGRE - cont.

A culpa dos fogos na nossa floresta - ou melhor, a culpa da extraordinária dimensão e intensidade que alguns fogos assumem - é, sobretudo, da estrutura minifundiária da propriedade.»»Essa é a perspectiva estatista do problema. Seguem-se dezenas de projectos públicos de emparcelamento que não vão dar em nada. Ignora-se que a responsabilidade pela não existência de registos de propriedade, que torna impossível a concentração de terrenos num único proprietário, é do estado.
JM - Blasfémias
Olá JM!

Você é um radical, já se sabe. O Estado é, quanto ao JM, o culpado de tudo o que se passa debaixo do Sol, mesmo quando ele está de costas, ou sobretudo quando está de costas.
Mas, JM, você sabe que o Estado é uma entidade abstracta. Dizer que o culpado é o Estado é não dizer grande coisa. É uma forma fácil de chutar para canto. Aliás, neste aspecto, o JM enquadra-se bastante bem no perfil português típico: a culpa é dos outros, se for do Estado tanto melhor.
O pecado do Estado é sua inimputabilidade. Mas essa inimputabilidade é a resultante do nosso querer colectivo. E ou este se muda ou tudo continua na mesma.
De onde escrevo isto olho para a rua e vejo dois carros em cima do passeio. Estão sempre lá quando os donos estão em casa ou saíram noutros carros: um Jaguar e um Mercedes. Parece incrível, mas é verdade. Já reclamei várias vezes, ninguém liga. Fazem (quase) todos o mesmo aqui nas redondezas. A culpa é do Estado? A culpa é nossa.
Quanto à inexistência de um cadastro capaz da propriedade rústica e urbana, isso radica exactamente na nossa atitude colectiva de proceder. Não se iluda: a culpa é nossa. Enquanto em Portugal não nos consciencializarmos de que o laxismo do aparelho de Estado actua em conformidade com a nossa tendência colectiva para a bagunça, não mudamos nada.
É fácil, repito, mandar as culpas para cima do Estado. E depois? Que ganhamos nós em carregar para cima de um burro lazarento?
No dia em que alguém quiser promover a racionalidade económica da propriedade em Portugal cai-lhe em cima o Carmo e a Trindade. Estamos, colectivamente, muito longe de uma consciencialização generalizada do problema.
De uma coisa estou certo: quanto mais atiramos para canto, culpando o Estado e absolvendo-nos como se não fôssemos nós, em última instância os responsáveis, mais corremos o risco de perdermos o jogo em jogadas de bola parada.

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