Nicolau Santos argumenta na edição de sábado passado do
Expresso/Economia com
"oito razões para não se privatizar a Caixa"
1) "A CGD desmente que tudo o que é público dê prejuízo - ao longo da sua história, a Caixa foi sempre um dos maiores pagadores de impostos para os cofres do Estado ..." "Contribuiu de forma marcante para a modernização do sistema financeiro português ao longo de décadas, sendo um dos principais financiadores da economia nacional, sobretudo das pequenas e médias empresas."
Quanto ao pagamento de impostos, e dividendos, acrescento eu, NS esqueceu-se dos dividendos, NS também se esquece ou desconhece que, só recentemente, a Caixa deixou de ter o privilégio do exclusivo das operações de pagamentos e recebimentos do Estado. Esquece ou desconhece que todos os salários da função pública eram pagos através de contas bancárias obrigatoriamente abertas na Caixa. Que essa obrigatoriedade induzia uma inércia que fazia reter na Caixa a grande maioria das poupanças da função pública. Que, pelo facto de ser um banco do Estado, garantia, só aparentemente, os depósitos nela efectuados de forma mais efectiva que os depósitos em bancos privados. Que, durante muitos anos, teve o exclusivo, com parceiros menores como o Crédito Comercial Portugês e o Montepio Geral, do crédito à habitação, actividade em que se especializou. Mas nunca foi, nem hoje é, um dos principais financiadores da economia nacional, sobretudo das pequenas e médias empresas. E, contrariamente ao que afirma NS, a Caixa comportou-se sempre como uma grande repartição pública, olhando os seus clientes, do alto da sua soberba, como contribuintes. Recentemente, modernizou-se imitando a imagem dos privados. Copiou-lhes a modernidade e os truques com que inundaram o país de crédito importado, afogando a economia de dívidas.
Quanto aos impostos ( e dividendos, NS não se esqueça dos dividendos) com as condições de que desfrutava ( e ainda desfruta) o que admira não são os lucros mas as perdas escandalosas que agora está a declarar e o aumento de capital e empréstimo para recapitalização a que teve de recorrer.
3 - "A Caixa tem sido usada pelo Estado para evitar que algumas empresas caiam em mãos estrangeiras ... ) "
Antes de mais, logo o início deste argumento de NS está viciado: Porque o Estado não usa, nem usou, quem usa ou usou foram os governos, o que, claramente, está muito longe de ser a mesma coisa, porque nem sempre são coincidentes os interesses da sociedade organizada como Estado com os interesses dos governos suportados por interesses partidários. NS dá dois exemplos desta intervenção, para ele, virtuosa: o Grupo Champalimaud e a compra da Compal pela Sumolis. Ora o que é que do segmento financeiro de Champalimaud não foi parar ao Santander, via Banesto? O que foi para o BCP. Pior a emenda que o espanhol. Quanto à compra da Compal pela Sumolis já muita gente disse o que toda a gente sabe: um empenhamento da Caixa num negócio que não acrescentou nada à economia nacional. Estranho é que não tenha NS referido a intervenção da Caixa ( a mandado do governo de então, pois de quem haveria de ser?) na luta accionista no BCP sem garantias consistentes nem vantagens para a economia nacional, e na gestão desastrada do maior escândalo financeiro de sempre que deu pelo nome de BPN.
4 - "Há quem considere que é por isso que se deve privatizar a Caixa, para evitar a sua utilização pelos políticos. O problema não é da Caixa, é de quem está à frente dos destinos da Caixa ..."
A culpa não é das calças, Nicolau!
5 - "A Caixa cumpre um visível papel de coesão territorial do país, ao manter abertas em locais recônditos agências que servem populações isoladas dos grandes centros urbanos ... "
Não há razão nenhuma para que não haja sempre quem localmente possa ser correspondente de um ou mais bancos. Os mais recentes desenvolvimentos na área das telecomunicações têm permitido que os clientes não necessitem de um balcão físico para realizar a maior parte das operações que necessitam. A idade da caderneta da Caixa se ainda não passou acabará por passar.
6 - " A Caixa é o último reduto de confiança dos depositantes no sistema financeiro português ..."
Esta afirmação é um disparate total. No dia em que houver uma corrida aos bancos, a Caixa cai como qualquer outro banco privado. Só ignora isto quem não percebe a dinâmica de uma corrida aos bancos. Pode começar por ser irracional, acaba sempre por ser racional. NS argumenta, a este propósito, que "a Caixa absorveu quatro instituições, a última das quais o BPN, para evitar uma corrida aos depósitos dos bancos privados". Ora a Caixa não absorveu o BPN, geriu-o de forma desastrada, aumentando em larga medida o escândalo que lhe foi entregue para gerir. Quem segurou a corrida aos bancos, NS, foram, e continuam a ser, os contribuintes. A Caixa, se teve um papel relevante no caso do BPN, foi o de papel de embrulho.
7 - "A venda da CGD não resolve o problema da dívida nacional ..."
Pois não. Mas pode ajudar a resolver. Segundo o raciocínio de NS, nenhuma privatização ajudou ou ajudará a resolver o problema da dívida. O que NS não explica é como se podem manter os anéis e os dedos quando o país chegou ao estado a que chegou.
8 - "A criação de um banco de fomento serve apenas para justificar a privatização da Caixa. A CGD pode ser esse banco de fomento - "
Se pode agora por que é que nunca pôde? Porque nunca teve, nem tem, vocação e competência. A Caixa é um mastodonte de pele insensível, velocidade lenta e visão estreita. E come muito. Privatizem a Caixa e constituam de raiz um banco de fomento, de capitais mistos, competente.
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Cf.
aqui