Friday, June 24, 2016

CONVERSAS AO ALMOÇO

- ...
- Ganhou o Brexit. A xenofobia foi o argumento mais determinante do resultado.
Um resultado que foi acolhido, como se esperava, com grande entusiasmo pelos quadrantes políticos extremos, da direita e da esquerda. 
- Se eu sou da extrema-esquerda tu és da extrema-direita!
- Se eu fosse da extrema-direita congratulava-me com o Brexit. Mas não é o caso. 
- Não foi a xenofobia que motivou a votação na saída. Foi a falta de democracia.O Reino Unido tem uma tradição democrática que não se subjuga ao diktat alemão. Nunca se subjugou, nunca se irá subjugar.
- Mas quem votou pelo Brexit não foram as classes mais instruídas, nem as camadas mais jovens da população. No Brexit votaram sobretudo os mais velhos e os menos habilitados. Aqueles que vêm no imigrantes as causas das suas dificuldades, reais ou induzidas pela propaganda.  
- A União Europeia está em desagregação ...
- Talvez esteja. Mas, agora, ao Reino Unido também não faltam ameaças. A primeiro-ministro da Escócia não perdeu tempo para anunciar novo referendo sobre a independência dos escoceses...Pior ainda, a saída do Reino Unido da UE vai reacender a luta para a unificação da Irlanda. 
- Parece-me bem ... Têm direito à auto determinação!
- Mas é uma auto determinação que se mobiliza de algum modo à volta do ingresso na UE. 
- E por que não?
- Em que ficamos? Desune-se o Reino Unido por falta de vivência democrática na UE, querem a independência os escoceses, os irlandeses do norte, ... e, talvez, os galeses, para poderem juntar-se à pouco democrática UE?!
- Tens dúvidas que não existe uma prática democrática na UE? Já esta manhã, ouvi na rádio que foi convocada uma conferência dos seis maiores parceiros da UE. Por quê estes seis? Os outros vinte e um não contam?
- Enquanto a União Europeia não for uma federação mínima assente numa defesa comum, numa representação diplomática comum, num orçamento federal, a sua condução estará sempre condicionada a prevalência de um directório não democraticamente sufragado.
- Não precisamos dum orçamento comum. É pelo orçamento que querem condicionar a nossa liberdade de decidir sobre o nosso destino ...
- Nem representação diplomática comum?
- Nem isso. Faria algum sentido que um holandês, por exemplo, fosse nosso embaixador em Luanda? Ou no Rio de Janeiro? 
- Nem defesa comum?
- Para quê? Se não nos defendermos ninguém nos defende. 
- Orgulhosamente sós, portanto. A extrema-direita tinha de andar por perto.

No comments: