O descalabro da Caixa continua, e vai continuar por muito tempo, na ordem do dia, porque o sapo é desmesurado para uma digestão apressada. A emergência de nova recapitalização foi alarmada já há bastante tempo mas só agora é que o deadline riscado pelo BCE provoca este frenesim que, como é habitual em Portugal, dá lugar ao combate de acusações reciprocas entre aqueles que, por acção ou omissão, são coniventes com os autores do rombo.
Argumentam alguns ajuntadores de atenuantes que o pântano em que se afundou o sistema financeiro em geral, e a Caixa em particular, também foi causado pelas ondas de choque provocadas pela crise que teve o seu epicentro nos EUA e se propagaram por todo o lado.
Segundo eles, a avaliação do risco do crédito concedido durante o período em que se concentraram a maior parte das operações de crédito, que agora se revelam incobráveis não previu, porque não poderia prever, a ocorrência do abalo financeiro ocorrido no outro lado do Atlântico.
Aliás, é também esta a tese de quem pretende justificar com causas externas os desmoronamentos do BPN, do BPP, do BES, do Banif, além das fissuras profundas no BCP, nas convulsões no BPI, e, sabe-se lá o quê, no Montepio. Sem o abalo externo, defendem eles, tudo teria continuado de pé e de bom aspecto exterior.
Esquecem, ou fingem esquecer, estes advogados oficiosos que os desmoronamentos ocorreram porque as estruturas estavam profundamente fragilizadas pelos desmandos e moscambilhas cometidos pelos banqueiros.
Os media têm dado conhecimento público dos nomes daqueles que na Caixa ordenaram ou permitiram operações de crédito que, no momento da concessão, eram de evidente risco elevado, sem garantias bastantes. O empréstimo a Berardo para compra de acções do BCP, configura-se, além de uma acção de gestão danosa, uma confluência de interesses políticos e pessoais que já deveria ter mobilizado o Ministério Público.
Por outro lado, para além do crédito concedido, em grande parte importado, em operações de mérito económico altamente duvidoso, excitaram-se os caixeiros na imitação das práticas dos bancos privados inundando o mercado de crédito para habitação, concedendo empréstimos acima do valor de transacção, inflacionando os preços, gerando uma espiral que, mais tarde ou mais cedo, seria inevitavelmente interrompida.
Em conclusão: os banqueiros, e, em particular os caixeiros, forjaram as acções que provocaram o desmoronamento que nos caiu em cima. Uns, foram promovidos, outros principescamente resguardados, uns quantos andam por aí à espera das prescrições que o tempo fará chegar.
Apontei há dias neste bloco de notas o meu (inconsequente) acordo à proposta de inquérito parlamentar à Caixa. Mudei de opinião: os factos e os personagens já conhecidos configuram mais um molho de casos de polícia a exigir investigação forense com dispensa de teatro em São Bento.
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Correl. - Mariana: Contabilidade e falta de senso
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Correl. - Mariana: Contabilidade e falta de senso
1 comment:
Tudo aponta que o BCE promoverá a transparência necessária.
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