O argumento mais usado para
pretensamente evidenciar a insustentabilidade do sistema previdencial invoca a
progressiva redução da relação entre activos contribuintes e beneficiários do
sistema em consequência do aumento da esperança de vida. Apesar das medidas
tomadas no sentido de ajustar a idade da reforma aquele aumento, os defensores
desta teoria improvada persistem em ignorar outras variáveis actuando em
sentido contrário, a mais destaca das quais, nos seus efeitos a longo prazo, é
o contínuo crescimento global da produtividade.
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A globalização impulsionou
irreversivelmente o crescimento da produtividade, e ainda que este seja um
conceito subtil porque, se considerado individualmente, confunde-se muitas
vezes com a capacidade de apreensão e não de criação de riqueza, é um facto
incontroverso que o crescimento da produtividade total significa que, para a
mesma produção de riqueza, são requeridos menos horas de actividade dos
recursos humanos disponíveis. No limite, num mundo cem por cento robotizado, a
espécie humana talvez seja extinta pelo tédio mas não irá o sistema previdencial à glória por isso.
Ignorar o crescimento da
produtividade nos cálculos da sustentabilidade do sistema só por ignorância ou menos
honestidade de processos. Dito isto, não se recusa reconhecer que, a curto e
médio prazo, a abordagem é diferente mas, pela variável temporal considerada
neste caso, é legítimo não trazer a questão da esperança de vida para a análise
das razões pelas quais o sistema pode apresentar transitoriamente
desequilíbrios.
Já referi atrás que tais desequilíbrios
observados no imediato são, em grande medida aparentes, porque não devem as
contribuições dos sectores privados ser chamadas a suportar apoios sociais que
devem ser suportados por toda a comunidade. Persiste este governo em chamar
redução de despesa aos cortes das pensões, qualquer que seja o modo como corta,
dos beneficiários dos sectores contributivos. É admissível que, num período de
contracção de actividade económica, o governo lance mão de medidas que possam
repor o equilíbrio do sistema previdencial. O que não é legítimo, porque é um
confisco, é que obrigue que o esforço recaia quase exclusivamente sobre aqueles
que durante quatro décadas pagaram a solidariedade que deveria ser suportada
por todos. Ou, então, deveria a solidariedade já há muito tempo ter mudado de
nome.
Olhando para trás e para a
frente, o curto e médio prazo, é indesmentível que o crescimento dos
beneficiários do sistema não se deveu nem deve exclusivamente, nem de perto nem
de longe, ao crescimento da longevidade. Muitos reformados do sector privado anteciparam
ou foram pressionados a optar pela reforma por razões relacionadas com a crise
ou por racionalização, isto é, aumento da produtividade, das empresas onde
trabalhavam. É indesmentível que os governos anteriores desde há muito que
apoiaram a política de reformas antecipadas concedendo subsídios de desemprego contratado entre
trabalhadores e entidades patronais.
No sector público, as vagas de
reformas antecipadas têm sido constantes, gabando-se os governos de reduzirem
os efectivos e as folhas de salário para, ao mesmo tempo, apontarem para o
aumento sempre crescente dos valores totais das pensões pagas. A culpa de quem
é? Da crise de crescimento económico, que não começou há dois ou três anos, mas
que vem de longe. Se há cada vez menos activos contribuintes e cada vez mais
beneficiários do sistema, as causas estão numa crise que se revelou em toda a
sua extensão com a implosão de uma vivência artificialmente suportada por
crédito importado sem rei nem roque para benefício de banqueiros, especuladores
e outros actores da mesma trupe.
Se não há meio de responsabilizar
quem se aproveitou do desmando ou da incompetência que forjou a crise e abalou
o sistema previdencial, é repugnante que se atire quase exclusivamente para
cima de quem não tem nem teve culpas no cartório o fardo de pagar integralmente as
consequências.
1 comment:
concordo plenamente só não vislumbro nenhuma solução expedita na minha imaginação nem no seu post.
como vemos os alemaes com salarios/pensoes muito superiores reduziram a idade da reforma para os 63 anos- será que para reduzir o excedente penalizavel pelas regras dos burocrats de Bruxelas?
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