Mitologias II
A terminar o meu apontamento de
ontem voltei a JG Rosa, “Cada um o quer,
prova”, um dito colocado na boca de um sertanejo, de uma simplicidade e
universalidade irrebatíveis. Que, por exemplo, tanto pode ser constatado num
parecer de um jurisconsulto constitucionalista, capaz de demonstrar uma tese e
a contrária consoante os interesses do consulente, como num relatório de
análise de viabilidade económica e financeira, que, na generalidade dos casos,
parte das conclusões para os considerandos. Quanto a relatórios e comunicados
políticos, o sentido das conclusões depende apenas da situação dos comunicantes
serem poder ou oposição.
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Vem isto a propósito da transcrição que fiz ontem de pág. 55 do relatório do OE 2014, e que mereceu a honra de um comentário por parte de quem tem profundo conhecimento da matéria e experiência governativa na área. Observa-me M C Aguiar que o relatório da Comissão Europeia, de 2010, citado no relatório do OE 2014, obviamente, não considerou alterações entretanto observadas no regime de segurança social e que, portanto, a sustentabilidade do sistema previdencial carece da consistência que o relatório da EU atribuiu.
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Percebo o argumento mas ocorre-me que, se houve, sobretudo fruto das circunstâncias da crise, um crescimento inesperado das despesas, também não é menos verdade que foram feitos ajustamentos, eufemismo de cortes, e alguns deles fortíssimos confiscos, nas pensões acima de determinados níveis, além de significativas reduções de apoios sociais.
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As conclusões do relatório da EU (2010) incorporadas pelo relator do relatório do OE 2014 consideram que “a sustentabilidade a longo prazo do sistema de pensões é um reflexo das medidas introduzidas anteriormente, como é o caso da reforma de 2007 que introduziu, entre outras medidas, o factor de sustentabilidade (igual à razão entre a esperança de vida aos 65 anos em 2006 e no ano anterior ao da passagem à reforma) …”. Uma reforma que prometia ter resolvido o problema da sustentabilidade da segurança social e mereceu rasgados elogios da EU, entre outras entidades internacionais.
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Vem isto a propósito da transcrição que fiz ontem de pág. 55 do relatório do OE 2014, e que mereceu a honra de um comentário por parte de quem tem profundo conhecimento da matéria e experiência governativa na área. Observa-me M C Aguiar que o relatório da Comissão Europeia, de 2010, citado no relatório do OE 2014, obviamente, não considerou alterações entretanto observadas no regime de segurança social e que, portanto, a sustentabilidade do sistema previdencial carece da consistência que o relatório da EU atribuiu.
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Percebo o argumento mas ocorre-me que, se houve, sobretudo fruto das circunstâncias da crise, um crescimento inesperado das despesas, também não é menos verdade que foram feitos ajustamentos, eufemismo de cortes, e alguns deles fortíssimos confiscos, nas pensões acima de determinados níveis, além de significativas reduções de apoios sociais.
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As conclusões do relatório da EU (2010) incorporadas pelo relator do relatório do OE 2014 consideram que “a sustentabilidade a longo prazo do sistema de pensões é um reflexo das medidas introduzidas anteriormente, como é o caso da reforma de 2007 que introduziu, entre outras medidas, o factor de sustentabilidade (igual à razão entre a esperança de vida aos 65 anos em 2006 e no ano anterior ao da passagem à reforma) …”. Uma reforma que prometia ter resolvido o problema da sustentabilidade da segurança social e mereceu rasgados elogios da EU, entre outras entidades internacionais.
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Mais adiante, e transcrevo do
relatório do OE 2014, pág. 56, lê-se: “No
entanto, estas medidas dirigiram-se ao problema da sustentabilidade no longo
prazo, não resolvendo o problema financeiro de curto e médio prazo.” Nada,
portanto, que deva preocupar o jovem director-adjunto do Expresso que citei no
apontamento de ontem.
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Acrescenta ainda o relatório do
OE 2014 que “É de notar que estas
projecções tiveram por ano base 2010, quando as projecções demográficas
(essencialmente por via da maior imigração líquida) e de crescimento eram mais
favoráveis, com repercussões na evolução do peso da despesa em pensões no PIB”.
Nada que não possa ser ultrapassado. Havendo recuperação económica, o fluxo
migratório inverte-se automaticamente. A hipótese contrária pressupõe que a
crise veio para não mais sair e, consequentemente, o país continuaria
inelutavelmente para a desertificação humana. Quer dizer: o problema da
sustentabilidade da segurança social ficava definitivamente resolvida pelo lado
oposto.
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Refere ainda M C Aguiar que desde
2009 o orçamento do sistema previdencial vem sendo reforçado com transferências
do OE. A mim, parece-me que o contrário é que foi inexplicável. O sistema de
segurança social actual foi criado com a utilização dos activos capitalizados
durante o sistema que vigorou até ao começo da década de 70 do século passado.
Foram esses activos que suportaram o pagamento das pensões e outros benefícios
sociais aos não contributivos que, de um momento para o outro, aumentaram
exponencialmente o universo de beneficiários. E o que foi sobrando foi
colmatando os défices do orçamento do Estado, sempre deficitário.
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Quem suportou essa política
assistencial aos não contributivos? Pois, inquestionavelmente, os que tinham
contribuído até aí e, a partir daí, continuaram a contribuir. Uma despesa (essa
sim, despesa pública, mas brevemente voltarei a esta outra confusão de
conceitos, que deveria ser suportada por
toda a sociedade, através de impostos) foi apenas suportada por aqueles que
trabalhavam por conta de outrem nos sectores privados, com excepção do sector
bancário (excepto o Totta Açores por ser parte do grupo CUF) e vários outros
sectores protegidos por regimes especiais.
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Uma flagrante e enormíssima iniquidade fiscal de que, inexplicavelmente, quase não se fala.
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Uma flagrante e enormíssima iniquidade fiscal de que, inexplicavelmente, quase não se fala.
Um tabu?
(continua)
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