Como as mentiras, não se tornam verdadeiros os erros repetidos mas sobrepõem-se frequentemente à verdade mesmo junto de quem tem obrigação de um mínimo sentido crítico da informação que consulta. O Público iniciou hoje uma séria de quatro artigos, vd. aqui, sobre a evolução dos principais indicadores da economia portuguesa desde 1973.
De entre esses indicadores, assume particular acuidade a taxa de desemprego, o maior flagelo das economias ocidentais, resultado de uma concorrência global por um bem - trabalho - cada vez mais escasso no Ocidente por duas razões fundamentais - a deslocalização das actividades industriais para leste e o aumento global da produtividade -, por sua vez conquência natural da liberalização do comércio externo.
Segundo os dados citados por Sérgio Aníbal, a taxa de desemprego terá crescido em Portugal de 1,4% em 1973 para 5,5% em 1993 e 15,6% em 2013. Ora os valores muito baixos das taxas de desemprego referidos para as três décadas anteriores a 1974, e que em 1973 seria de 1,4%, não são de modo algum comparáveis com os valores referidos para duas e três décadas depois. Já anotei há alguns anos atrás neste caderno de notas o absurdo desta comparação frequentemente repetida.
Antes de 25 Abril de 1974, o sector primário - sobretudo a agricultura - assumia ainda uma importância relativa determinante no emprego em Portugal. A fuga ao campo já se tinha precipitado na década anterior não só em consequência de um crescimento inusitado do sector secundário mas também de uma vaga de emigração sobretudo para a Europa, além do envolvimento de praticamente todos os rapazes entre os 20 e os 24 anos na guerra em África.
Acontece que a taxa de desemprego na agricultura e pescas antes de 1974 era muito elevada se aplicados os critérios de avaliação actuais às situações que se observavam naquele tempo em matéria de garantia de trabalho regular. Os valores citados por A Sérgio são os que constam da estatísticas oficiais mas não lhe conferem, por essa qualidade, qualquer fiabilidade.
1 comment:
podemos analizar e encontrar dados que vale a pena reequacionar,mas a verdade é que a correção das contas através do desemprego, além de socialmente penoso, leva a formas paralelas de injustiça. Como continuar a taxar igualmente, lucros derivados de empregabilidade por vezes diametralmente opostas. Claro que um dia o estouro vai-se dar,mas até lá quanto sofrimento exagerado e escravatura tolerada(veja-se os lucros fabulosos de Zara &Co e os salarios dos trabalhadores dos paises sudoeste asiatico + desemprego na UE)
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