Wednesday, June 12, 2013

QUANDO A TROICA SAIR

Já muita gente percebeu, mesmo muitos daqueles que nos querem fazer crer no contrário, que  após a prevista saída da troica dentro de cerca de um ano, a situação de soberania limitada  não se alterará significativamente. Por várias razões, a mais decisiva das quais é a impossibilidade de Portugal se lançar do trapézio nos mercados sem rede. A indefinição da situação da união política europeia irá continuar a arrastar-se entre promessas de avanços e ameaças de recuos, a união bancária, o seguro global dos depósitos, a supervisão central do sistema financeiro, se progredirem nas reuniões continuarão adiadas sine die. A esperança numa mudança radical da atitude alemã perante as crises dos outros a partir das eleições gerais de Setembro é tão mirífica quanto as expectativas goradas na eleição de Monsieur Hollande.
 
Se a evolução do contexto europeu não é prometedora de avanços significativos na integração política, receando os outros, mais declaradamente o Reino Unido e a França,  a ameaça de uma hegemonia alemã e os alemães um contágio inflacionista de uma convivência que não possam controlar com os países, do seu ponto de vista, indisciplinados; se a situação económica na Europa continuar deprimida pelo contexto de indefinição política que continua a erodir as instituições da União; se a evolução da situação económica em Portugal não se perspectiva capaz de gerar riqueza suficiente para quebrar a progressão incontrolada da dívida, se as receitas extraordinárias resultantes de privatizações não contrariaram o crescimento de endividamento público, e o que sobra é muito menos representativo; se a instabilidade social se agrava à medida que a resistência à crise se esgota, desanimando o investimento, - qual a probabilidade de Portugal ir aos mercados e sustentar-se sem o apoio da troica?
 
Nenhuma.
Se, dentro de uma ano, a troica sair, na melhor das hipóteses será o BCE que ditará as regras para manter a rede sem a qual Portugal se estatelará sem apelo nem agravo. Portugal, dentro ou fora da zona euro, só poderá reerguer-se se produzir mais. O problema de Portugal não é o consumo excessivo, ainda que sejam por demais evidentes sinais de algum desregramento público e privado, o problema é a insuficiência produtiva que decorre da insuficiência de investimento produtivo. E este não acorre onde o contexto social apresenta crispações evidentes, onde o consenso é repelido pela ânsia partidária generalizada de chegar ao poleiro, mesmo nos degraus inferiores da capoeira*. Onde democracia em situação de crise dramática é entendida como confronto ideológico e não procura de plataformas do entendimento essencial ao investimento produtivo.
 
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* Repito-me: a plantação intensa por todo o país de outdoors gigantes promovendo as caras dos candidatos  às autárquicas de Setembro/Outubro é sintomática desta ânsia desmedida de poder a conquistar pela propaganda partidária. Quem paga e para quê tamanho estendal? Os contribuintes pagam 42 milhões via OE, e o resto por outras vias. A reforma administrativa do país prevista no memorando de entendimento resumiu-se a quase nada. Também neste caso, quando a troica sair continuará tudo na mesma como quando entrou.
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Correl . - Cavaco pede à Europa que autorize regime fiscal especial para o sector exportador português
O Tribunal Constitucional alemão está analisar a legalidade do programa de compra de dívida do Banco Central Europeu (BCE), um plano decisivo para Portugal regressar aos mercados e conseguir financiar-se no período pós-troika, conta esta quarta-feira o Diário Económico. - vd aqui 

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