"Quando Vítor Gaspar sair...virá outro ministro das Finanças que estará queimado ao fim de pouco tempo, e assim sucessivamente. Independentemente dos Governos/Protagonistas temos que ajustar a Despesa Pública directa e indirecta ao total das receitas fiscais e não fiscais recorrentes, agora que esgotamos praticamente as receitas extraordinárias, as receitas das privatizações e a capacidade de endividamento. Gaspar é criticado como foi Ernâni Lopes em 1983-84. Qualquer ministro das Finanças que seja obrigado a conduzir um processo de ajustamento duro em consequência dos excessos de despesa acumulados em 15anos ficará desacreditado face à população atingida. Vale a pena mudar quando isso é um sinal errado?"
Em meados de Outubro do ano passado, José Miguel Júdice dizia numa entrevista publicada aqui, que comentei aqui: "Gosto de chamar ao professor Gaspar 'Miguel Vasconcelos' [...] Vasconcelos era o homem que quem mandava em nós acreditava que devia estar a governar. Não acho que (Gaspar) seja perverso, acho que faz o que tem a fazer e merece todos os elogios num país onde ninguém faz o que tem de fazer".
Sibilinamente, Júdice atribui a Merkel o lugar de Filipe IV de Espanha e a Gaspar a responsabilidade de governar Portugal por ser esse o desejo de quem manda em nós, i.e., Merkel, e porque Gaspar faz o que tem de fazer, isto é, o que o mandam fazer. A ideia de que Vítor Gaspar estava claramente subordinado às directivas de Merkel/Schäuble já estava então a transbordar dos quadrantes políticos da esquerda para grande parte daqueles que constituem o suporte tradicional dos partidos da maioria que apoia o governo. Hoje são poucos os que vêm a terreiro defender Gaspar, e a farpa de domingo passado de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando Vítor Gaspar bastante inútil, é muito sintomática da generalizada falta de credibilidade do actual ministro.
Não apenas porque a sua imagem aparece aos olhos da generalidade dos opinion makers como excessivamente colada ao diktat alemão mas também pelas contradições em que tem caído nos últimos tempos, para além da degradação de alguns indicadores socialmente críticos, dos quais o nível de desemprego é o mais sensível, muito para além das previsões do memorando de entendimento e das suas revisões.
É hoje consensual que o programa de assistência foi mal negociado (ou mal desenhado, dá no mesmo). O próprio ministro afirmou isso mesmo, recentemente. E a pergunta óbvia saltou por todo lado: Mas só agora é que ele viu isso? E a suspeita confirma-se: toda a sua intervenção ao longo destes dois anos foi determinada, além do mais, por esta sua incapacidade preliminar de não ter denunciado o erro no desenho do memorando de entendimento.
Outro ministro das Finanças faria o mesmo porque o memorando tem de ser cumprido? Não é provável. Cada ministro é, parafraseando o filósofo, ele e as suas circunstâncias. Ele, não seria o mesmo e as circunstâncias estão-se a alterar.
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